FUIIIINo dia em que eu largar tudo e for morar em São Miguel dos Milagres, minhas amigas do colégio que diziam que eu vivia em outro planeta, em um mundinho perfeito só meu, não vão estranhar e dizer “eu disse”.

No dia em que eu largar tudo e for morar em Alto Paraíso de Goiás, meus colegas que me criticaram, tentando me ofender, dizendo que eu vivia em um mundo utópico, que eu mesma criei, vão ficar de queixo caído.

No dia em que eu largar tudo e for morar em Belém do Pará, vai ser pra me afastar do caos, do aperto diário nos transportes públicos, do medo da violência urbana e da falta de solidariedade...

No dia em que eu largar tudo e for morar em Madre de Deus, não vou estranhar se eu não me adaptar no começo, mas vou me martirizar se eu tiver vontade de voltar.

A gente já está mais do que acostumado com essa loucura e eu simplesmente não consigo entender. Como podemos nos adaptar a um sistema que só nos quer mal?

O que são as coisas? Ter, não ter... Trabalhar pra ter, descansar para o outro dia voltar a trabalhar. E ter, comprar, ser melhor que o outro “tendo”.

Um dos motivos que eu não largo tudo e vou para Oiapoque ou pro Chuí hoje mesmo é porque ainda não consigo ser egoísta assim... É egoísmo, mesmo. Não tem outra palavra pra descrever o que seria largar tudo e tentar a simplicidade de ser feliz.

Egoísmo com quem precisa de mim aqui.

Mas seria também egoísmo com o sistema e ele bem que merece que eu, ou melhor que todos nós fizéssemos isso, sabe, simplesmente ser feliz.

Esse sistema que nunca se importou se estamos ou não, bem. Que nunca perguntou se precisamos de algo mais para ser feliz.

Ele simplesmente impõe estilos de vida suicidas, regras para que nos tornemos maus e nos enfia na cabeça desejos que, na verdade, são frutos da propaganda e não do coração.

De que vale a vida se a gente quer só ter e esquece de ser? Afinal, nosso único e maior desejo é ser feliz.