"Então... A culpa é de quem? Eu canto em português errado. Acho que o imperfeito não participa do passado..." (Meninos e Meninas, Legião Urbana)
“Em menos de duas horas, tudo será queimado num forno de alta temperatura”, um camboio que transporta toda droga da delegacia no Rio entra em um ferro velho no Caju. Atrás daquelas latas-velhas, chega um calor mesclado pelo sol e o incinerador. Desfazer-se dessa droga significa mais do que simplesmente dar um fim a ela, pode significar salvar vidas, já que “a expansão do tráfico de drogas a partir da metade da década de 80 é diretamente responsável pelo crescimento de número de homicídios”, frase tirada do documentário Notícias de uma Guerra Particular. Esse cenário descrito é um dos fins para esse causador de tantas mortes. Tem traços de Counter Strike, um polêmico jogo de tiro. Essa batalha tão violenta entre traficantes e policiais no Rio de Janeiro não é muito diferente das batalhas entre terroristas e exército, inspiração para esse jogo. Só que tudo que poderia, se vivêssemos em um mundo perfeito, ser ficção, se baseia em uma grande realidade. “Não penso em fazer maldade com ninguém”, mas em Terra sem Lei, ou que as leis são as dos mais ricos, qualquer um teme ser excluído “primeiro eu fiz isso para me alimentar, comprar comida; depois para me manter, andar arrumado”, diz Adriano, traficante, 29 anos, no mesmo documentário. A culpa é de quem? A culpa é do cara humilhado e considerado marginal desde criança, quando nem ao menos tinha consciência do que é certo e errado? A culpa é de quem? Do garoto que é deixado sozinho na favela porque os pais tinham que ir trabalhar e não tinham onde e com quem deixar? Não. A culpa não é deles. A culpa, acredito, que é dessa competição sem fundamento por ter mais coisas de valor. Por quê? Não entra na minha cabeça, já que no fim, todos nós deixaremos de ter, para apenas ser... Ser lembranças dos entes queridos que ficaram, ser espírito. Certa vez li pixado no banco do ônibus que “o mesmo cara que me prende por roubar, é o cara que me incita a comprar”, agora me diz você... a culpa é de quem?