Eu estava sentada na minha mesa de secretária, entre um atendimento e outro, a filha de minha patroa chegou ao escritório, muito nervosa, andava de um lado para outro, roendo unhas e quando finalmente se sentou, não parou de bater os pés no chão de madeira, além de toda a agitação corporal, murmurava algum discurso para ela mesma.
Todos no escritório sabíamos do caso que ela teve com um dos estagiários, um belo rapaz de olhos claros e cabelo preto, mas ela nunca vinha procurá-lo aqui, em seu local de trabalho.
Ela estava mais arrumada do que costumava aparecer ali, com cabelos presos no alto da cabeça, óculos escuros e botas de salto alto.
Enquanto ela respirava ofegante na recepção, eu percebi um movimento na porta da sala do cara: os outros funcionários estavam atentos na conversa que acontecia lá dentro, tratei de disperçá-los e foi aí que a moça entrou sem ser anunciada e em silêncio.
Somente eu que estava por perto notei sua face de uma mulher de 25 anos se transformar, junto com suas outras tantas expressões, em uma adolescente de coração partido.
Sua boca vermelha se contorceu e seus olhos se fecharam, ela começou a respirar absolutamente o necessário, e cada palavra que ouvia seu rosto ia ficando mais encharcado de lágrimas e borrado de maquiagem.
Ao perceber a presença de sua filha, a mãe, sem entender muito bem o desespero da menina, foi acudi-la, me pediu para ir buscar um copo de água com açúcar, e os ânimos começaram a acalmar.
Quando eu estava saindo, ouvi a conversa inteira: a moça está grávida do moço, que estava se declarando para a mãe dela, e a mãe estava também apaixonado por ele.
A menina estava tão nervosa quando chegou, ela disse que ia ter um filho de seu padrasto, chorou. Depois riu e concluiu que era melhor que fosse, mesmo, tudo em família.