“Ah, Lucas! É melhor eu ir embora… vou deixar vocês sozinhos! Vai que eu me apaixono, não vai dar certo…” eu disse. E ele sorriu, assim, como se eu não estivesse falando sério. “Você acha que é mentira?” completei. E ele só sorria. Aquilo partiu meu coração, porque não poderia ser sério? Ele era bem bonito, me interessei por ele na hora que eu o vi.
No meio de tanta gente, ele não só me chamou atenção, mas também me acelerou o coração. Fazia tanto tempo que isso não acontecia comigo. O irritante era a diferença de idade... Ele tinha 17 e eu 22. Eu que cheguei pra falar com ele, mas como eu ia imaginar que ele era tão mais novo?
A festa até que estava animada. Meus amigos eram poucos, mas conseguimos conhecer mais gente ali. Uns carinhas até chegaram em mim, eu acho, não estava prestando muito atenção. Eu queria bem o no-vi-nho, e nada tiraria ele da minha cabeça, sou assim.
Nem sei por que existe preconceito. Eu já tinha me prometido que não ia ficar mais com menino tão mais novo, mas dessa vez eu podia ter aberto uma exceção, mas meus amigos vieram com um papo de que ele era muito novo, que tinha carinha de criança... eu fiquei pressionada e lancei logo um “é pra Fernanda, é pra Fernanda! Arrumei alguém da idade dela pra ficar com ela”.
A Fê tem só 17 anos e ficou a festa toda num canto, no meio de um povo mais velho, então achei que ia ser uma boa saída para minha situação delicada, com meus amigos, e pra ela ficar um pouco mais contente, meu papel de “bom Samaritano”. Mas na verdade eu nem sei da onde eu tirei força pra fazer isso, devia ter admitido logo que meio que me apaixonei a primeira vista por ele.
“Só espero que não se beijem na minha frente”, pensei, eu já tinha sido legal demais, não precisava ainda ver a cena toda, isso já é auto destruição. Mas acho que foi a coisa certa a ser feita. Eles têm a mesma idade e até que se deram bem. Parece que gostam do mesmo estilo de música. Sei lá se isso quer dizer alguma coisa.
Depois que percebi que nada estava acontecendo, decidi investigar. Vai que rola um desinteresse dos dois, né?! Fui ao banheiro e chamei a Fê, perguntei o que ela tinha achado dele. “Bom...”, começou “...até que ele é bonitinho.”! Bonitinho?! Achei que ele é o maior gato! Bonitinho é, tipo... O tênis dele! Ele é... deixa pra lá, o que muda o que eu achei? Ela não estava certa que queria ficar com ele. Eu estava mais do que certa que eu queria.
Mas eu sou assim, queria ser diferente, mas não consigo: quando eu encano em alguém, mesmo que por um dia ou temporada, não consigo me interessar por outro. Então, depois de ver todos meus amigos ficando com alguém, decidi tirar meu time de campo de vez quando percebi que tudo parecia mais timidez e não desinteresse, das duas partes.
Andei um pouco pela casa e dei de cara com uma porta entre aberta de um quarto de menino. O computador estava ligado com a tela em espera, quando eu mexi no mouse, abriu uma playlist no iTunes, com várias músicas que eu gosto. Cliquei em uma delas e deitei no colchão sem cama que fazia o quarto style, mais style ainda.
Apertei o play.
Músicas legais. Desencanei do mundo lá fora, fechei os olhos e fiquei escutando aquele som alto. Até dei uma cochilada. Logo depois de sei lá quantas músicas que tocou, ouvi o barulho da festa e um clarão entrando no quarto, alguém abriu a porta.
Fiquei envergonhada e enquanto passava a mãos nos olhos, falei: “O dono do quarto pegou a enxerida?!” e olhando pra porta, vi que era ele lá parado. “Não tem problema, Eduarda, ainda bem que é você, eu tava mesmo te procurando” e acendeu a luz, “Gostou da playlist? Muito legal essa música né?”, sorriu.
Depois disse que tinha me visto entrar lá, mas não foi antes porque não queria deixar minha amiga falando sozinha, porque ela era muito legal mesmo. E sorriu pra mim. Eu disse que ele não devia ter mesmo deixado ela sozinha e ele respondeu: “ah, um cara veio falar com ela e eles estão conversando agora... ele é bem mais velho!” e riu.
Morri de vergonha. Eu achando que eles iam se dar bem porque eram da mesma idade. Olhei pra baixo, desviei os olhos e brinquei com o abajur, acendendo-o. E ainda parado perto da porta, ele desligou a luz e sentou ao meu lado. Ficamos meio sem graça. Quem ia falar primeiro? “Você acha melhor eu ir embora?” ele perguntou e eu neguei com a cabeça, com aquelas caras de ponto de interrogação. E ele continuou: “Vai que eu me apaixono... isso não vai dar certo...” me beijou e sorriu “você acha que é mentira?”, completou eu disse que não e me beijou de novo.