Segunda-feira, depois de um final de semana tranqüilo, sem nada de especial ter acontecido, alguém finalmente me chamou atenção e fazia tempo que não acontecia isso. Eu tinha que estudar, não podia prestar atenção ao meu redor, mas quando ela chegou não consegui me concentrar em mais nada, troquei algumas palavras com meu colega de três poltronas atrás de mim, voltei para a minha e olhei tão apreensivo que acho que ela até percebeu.

Seus pés sem conseguir encostar-se ao chão, com um tênis velho e de cadarço sujo, calça jeans toda desfiada na barra, de um caimento não muito bonito, uma camiseta branca colada no corpo, com um decote do tamanho do mundo – talvez até tenha sido isso que me chamou atenção em um primeiro momento – um casaco em cima de sua barriga, com um fone de ouvido e lendo uma revista que eu nunca tinha ouvido falar. Vi em sua mão direita um relógio roxo e pensei e perguntar as horas… Mas achei que ia ser ridículo, pois as três meninas sentadas ao meu lado tinham relógios também. Olhando melhor pra ela, sem dar muito na cara, vi que não usava nenhum tipo de anel e suas unhas estavam pintadas de marrom.

Tentei  continuar estudando, mas tudo o que passava pela minha cabeça era como me aproximar dela, olhei de novo pra trás, não pude deixar de notar que nessa hora ela estava olhando pra mim, mas disfarçou e voltou a ler a revista. Ok, posso estar delirando, mas eu tenho certeza que vi ela olhando pra mim.

Ela tirou os óculos que usava pra ler e guardou a revista, ficou ainda mais linda com aqueles olhos de jabuticaba extremamente brilhantes,  lembrei então de um chocolate na minha mochila, abri, ofereci pra quem estava do meu lado, quando olhei pra trás para oferecer-lhe, ela já estava olhando pra mim, sorriu, balançou a cabeça negativamente e conquistou meu pensamento pelo resto da viagem.

Não sei o que ela tinha pra me envolver tanto, a própria menina do meu lado era considerada por todos do ônibus uma das mais bonitas, mas não sei, parecia que nós  precisávamos um do outro, de uma forma não de dependência, mas de nos atrairmos um ao outro, feito imã.