Querida amiga Giulia,
Obrigada por me alertar sobre o que é ser jovem, acho que eu havia esquecido isso. O problema era essa minha mania de querer fazer tudo o mais certo possível e isso estava me deixando maluca. Quando você me disse que ainda somos jovens e temos direito de errar, eu te disse que eu nunca tinha parado para pensar nisso, lembra? Pois é… Agora eu penso.
Finalmente, eu entendi o que você quis dizer quando se referiu a sermos jovens. Sempre achei que qualquer tropeçada que eu desse decepcionaria a todos que me amam, principalmente meus pais. O pior é que sempre parece mesmo que isso acontece, mas eu não entendia que era apenas uma frustração fugaz e não faz com que a confiança que as pessoas têm em mim diminua e no outro dia tudo volta ao normal.
O meu conceito não foi formado a troco de nada. Algumas vezes em que eu menti ou errei feio, acabei perdendo a confiança de muita gente, algumas me perdoaram e outras ficaram pra trás. Talvez eu até já tenha errado com você, mas você sabendo de nossa eterna condição me perdoou. Talvez todos os outros possam me perdoar também.
É claro que não posso ficar dando essa desculpa por tudo o que faço de errado, muito menos esperar que não seja castigada por isso, mas eu descobri que quanto mais jovem a gente é ao cometer certo erro, menos teremos que pagar por ele. Talvez por termos mais tempo para corrigir ou por não conhecer todos os métodos de esconder os erros – quero dizer, se não tem ninguém para ouvir a árvore caindo no meio da floresta, ela não deve fazer barulho, né?! – ou ainda, a falta de experiência, talvez esse seja o fator mais importante.
Eu já cometi muitos erros e sempre os assumi (e isso mostra o quanto madura eu sou). Eu achava que sempre era perdoada por tentar errar o mínimo possível e que as pessoas sentiam essa energia vinda de mim. Quantas vezes eu não chegava arrependida pedindo desculpas achando que eu estava com o moral baixo, mas ao conversar com a pessoa, descobria que não precisava me envergonhar tanto. Você deve se lembrar do dia em que eu fiz uma baita besteira na escola quando eu estava no último ano e ao pedir desculpas para a nossa diretora ela simplesmente me disse: “você errou sim, mas adolescente é assim mesmo, faz besteira, só não faça isso com freqüência.” Algo assim, se lembra?
Com meus pais, é muito pior! Por eu estar há quase 21 anos com eles, a quantidade de besteira é mil vezes maior. Já menti, errei, continuei errando, descobri novos erros, cometi antigos erros que não deveria cometer e ainda erro sem parar, mas eles nem ligam! Tá, é obvio que não é assim também “eles nem ligam”, ligam sim. Minha mãe chora de nervoso e meu pai fica sem falar comigo durante duas ou três horas. Só que depois que o nervoso passa, eles percebem que há mancadas piores e que meus erros são apenas erros de jovens. Daí vem a parte chata de errar, porque eles vêm conversar comigo e corrigir meus erros com comentários paternais. Como seus pais agem? São assim também? Porque eu considero meus pais muito ponderados e eu gosto disso, acho que eu tenho sorte.
Dizem que eu penso muito nas coisas, nos erros principalmente, e já me alertaram que não é tão bom assim. Eu percebi que eu vou construindo monstros dentro de mim e quando eu vou enfrentá-los vejo que não eram tão grandes, não tinham garras e nem babavam. Então, entendi que não preciso me preocupar tanto com alguns tipos de erros.
Depois do dia que conversamos e você me disse isso, estou vivendo muito melhor e sem peso na consciência. Obrigada por tudo. Espero que você tenha entendido tudo o que eu quis dizer. Falando em me entender, você sabe aquele vestido preto que você me emprestou para eu ir àquela festa de formatura? Então, onde foi mesmo que você comprou? Sabe o que é… Terei que comprar um novo pra você.
Beijos, Gabi.