Começo com minha conclusão: não é porque você não reconhece o amor incondicional que ele não exista em você ou que ele não exista por si só.
No sábado passado falei com minha família sobre amor incondicional. Não sei se me fiz entender, pois alguém me disse: "você ama, mas se a pessoa te faz alguma coisa, você deixa de amar".
Dois dias depois, vi que naquele mesmo dia uma pessoa fizera um comentário em um texto meu sobre perdão. Concordou que perdoar era importante, mas seu comentário foi para expressar que era exagero dizer sobre "amar incondicionalmente", dizendo que "amar de forma incondicional" chega a ser deboche com quem sofreu a agressão e que isso era hipocrisia. Além disso, expressou que de hipocrisia estava farta, dando a entender que não gostara do que eu escrevi.
Justo, ela está no direito dela e eu, sinceramente, gostei muito do que ela escreveu. Afinal, quanta sincronia: naquele mesmo dia eu falar sobre amor incondiconal com meus familiares e, sem eu saber, algumas horas antes ter recebido esse comentário.
Porém, nessas duas situações parece que as pessoas não reconhecem esse amor incondicional. Reconhecem apenas uma afinidade, um amor humano, um carinho. Não digo que não conhecem, apenas não pararam, talvez, para resgatar esse sentimento tão belo dentro de si, por, talvez, nunca terem sido provocados a isso, por nunca terem sentido essa necessidade.
Repito e repetirei algumas vezes essa minha visão: não é porque alguém não reconhece esse amor incondiconal, que ele não exista por si ou que ninguém pode sentir.
Não tenho filhos, mas pelo que dizem, o amor de uma mãe para um filho é totalmente incondicional. Não importa o que o filho faça, a mãe vai amar. Eventualmente, quando eu for mãe, posso vir confirmar isso para vocês. No entanto, mesmo sem ser mãe, eu (re)conheço o amor incondicional, pois o sinto profundamente, uma grande parte do tempo pela simples razão de ter a intenção de fazê-lo.
Há 7 anos e meio, me tornei vegetariana. Foi um marco em minha vida. Alguns meses antes, comecei em meu caminho de autoconhecimento e despertar. O que seria esse caminho? No começo, eu não sabia, mas hoje tenho a certeza de que é o caminho de conexão com meu verdadeiro Eu, a busca pelo equilíbrio e da paz interior.
Eu era desequilibrada demais, emocionalmente instável e me fazia de vítima. Nessa jornada sem volta, percebi que me sentir bem era o mais importante. Para me sentir bem, descobrir o amor incondicional foi imprescindível. O amor incondicional está relacionado, ao meu ver, à compaixão. E compaixão é a certeza que todos merecemos ser felizes, independentemente de nossas escolhas. Não nutrir sentimentos ruins pelas pessoas.
Não sou especial, tenho alguns amigos que já sentiram esse amor incondicional e ensinamentos espirituais nos levam a esse conceito. Também não posso dizer que eu sou amor incondicional, que consigo amar todas as pessoas o tempo todo nesse grau. Sou um ser humano que procura praticar o amor incondicional para me sentir melhor.
Sim, eu senti necessidade de resgatá-lo para me conectar com minha paz, tive a intenção de sentir, experimentei e procuro praticar sempre. Por isso digo: sinta a intenção verdadeira, que uma hora você também reconhecerá. Meditar ajuda.
Não preciso ser iluminada para sentir esse amor, mas em busca do meu equilíbrio emocional, busco dentro de mim, sempre que preciso, amar o outro de forma incondicional para que o perdão seja mais fácil, para que meu equilíbrio seja alcançado.
Algumas pessoas me pedem para mudar essa expressão: "amor incondiconal pode soar errado, porque não usa 'amor sublime', 'amor e ponto final', 'amor fraternal'?" Não, gente, continuarei usando amor incondicional, acostumem-se, por favor, é o meu estilo.
Se eu quiser usar essas palavras, usarei no máximo como sinônimo. Porém, o amor fraterno pode acabar se o irmão vacilar; o amor e ponto final pode ser interpretado como amor romântico, que acaba; e o amor sublime talvez tenha uma conotação de ideal demais para nós sentirmos. Incondiconal não, é a palavra perfeita: sem condições, eu simplesmente amo. Poderia usar, no entanto, amor de Deus, mas Deus é tão abstrato, tem gente que nem crê.
Porém, sim, é o amor de Deus. Sinto que é o amor divino. É o amor de Jesus Cristo. Por que ouvimos tanto que "Jesus te ama"? Não é apenas para nos levar a alguma igreja, mas porque Jesus conseguiu amar todos os seres existentes, apenas por ser. Porque Jesus sabia que nós somos todos um, então você sou eu, ele é você, e Deus está em nós, a força Crística está em nós, e esse é o verdadeiro amor.
Vídeo complementar: o amor é um estado de consciência ♡
https://youtu.be/uz9FpCX49CEE olha que eu não sou cristã, e quando era, não entendia isso. Questiono se todo cristão entende.
Ainda que tão elevado, é um sentimento humano, fácil de se reconhecer quando estamos na busca.
Naquele mesmo fim de semana, questionaram em um grupo do whatsapp se a gente conseguiria sentir compaixão por todo mundo, e eu respondi que sim. Não que seja algo automático, que eu tenha alcançado um dia e nunca mais preciso me preocupar, mas é uma prática diária, constante. Sou um ser humano, me incomodo com atitudes, me incomoda o fato de existirem injustiças, pessoas más e, muito me incomoda o sistema e as pessoas que fazem do mundo um lugar pior de se viver. Para me sentir melhor, sem pegar todas as dores do mundo, aceitei as coisas como elas são, comecei a praticar o amor incondicional.
A questão foi seguida com uma reflexão: porque será que parece ser natural de nós, seres humanos, sentimentos ruins como a pena e raiva; enquanto o amor e compaixão parecem sentimentos que temos que produzir, nos esforçar para criá-los. Não concordo, acredito que temos todas essas emoções dentro de nós, todas as boas e ruins, porém quando a gente está identificado com nossa mente, quando não meditamos, quando acreditamos que somos o nosso ego e não um ser infinito, damos mais importância ao que acontece externamente, em nossa direção, do que existe internamente, em nossos corações. E, estando em uma sociedade tão competitiva, materialista, bélica, acabamos percebendo mais os sentimentos ruins.
Ou seja, dependendo do sentimento que a gente cultiva, internamente, vamos reconhecer mais facilmente o sentimento bom, ou ruim.
Por isso, quando entrei nessa jornada, cultivar sentimentos bons foi premissa. Para me sentir bem, mesmo quando uma coisa não sai como eu gostaria, eu reconheço esse amor incondicional e a compaixão.
Não significa que eu concorde com as atitudes de criminosos, sacanas, machistas - definitivamente. Significa que, dentro de mim, no meu ser, eu sinto esse amor e escolho praticar nas minhas atitudes como ser humano.
Significa que, se alguém me faz mal, eu consigo perdoar e o caminho que achei mais fácil foi resgatar esse amor, que existe, e praticar. Ser tolerante, praticar o não-julgamento. Amar a pessoa, sem condições nenhuma, ou seja, mesmo que ela tenha me magoado. Sem praticar isso, não conseguiria perdoar totalmente grandes criminosos. Ou pessoas babacas. Perdôo Bolsonaro, por exemplo, por tantas atitudes baixas. Por incentivar e institucionalizar o ódio no Brasil. Consigo amá-lo por ele ser um ser que está em evolução. Não significa que eu concorde com ele. Significa que reconheço-o como parte do universo, como uma faceta minha, inclusive. Amo-o sim, como um ser espiritual. Não tenho afinidade com ele, não. Não gosto dele como homem. Eu, Gabi, o julgo mau, do mal. Minha opinião. Porém, se eu quero ficar em paz, vou cultivar o amor por ele, não tenho razões para cultivar outra coisa. Vou reconhecer esse amor e nutrir nossa relação com esse amor. Não é porque eu, como ser humano, sinta coisas ruins por ele, que vou escolher cultivar essas coisas ruins. Isso só significa que, se eu tiver escolha, não irei escolhê-lo para me representar, para ter como amigo ou próximo em minhas redes sociais, online ou offline.
Mas tolero a presença dele no mundo, procuro não julga-lo como inferior e tenho compaixão: sei que ele tem seu nível de consciência específico, que está fazendo o melhor que pode com o que tem e, mais do que isso, ele deve estar fazendo tudo isso por uma razão. Cabe eu julgar? Não. Posso julgar a relação que quero ter com ele, mas julgá-lo, não. Posso escolher nutrir sentimentos que quiser por ele, mas julgá-lo, não. Posso ser a favor de ele ter seu mandato cassado, como político, como profissional; se ele cometeu algum crime, como cidadão brasileiro, posso ser a favor de que ele pague por isso. Mas como uma criatura feita por Deus, da mesma energia criadora que eu: não posso julgar. Quem sou eu? Quanta arrogância eu teria.
Como temos escolha de quem deixamos em nossas vidas pessoais, em última análise, podemos sim, facilmente, praticar o perdão resgatando o amor incondicional e manter alguém que nos feriu em nossas vidas, ou praticar o perdão e nos afastar dela mesmo assim. Perdoar não é escolher se manter com a pessoa para sempre. Sentir compaixão não é ter dívida com ela.
Ou podemos não perdoar. Podemos mesmo! Podemos continuar nos identificando com nossa mente que julga. Podemos viver achando que somos nosso ego, numa cadeira de vítima (como a minha, que saí e me foi minha liberdade) e que "ninguém tem o direito de me ferir". Podemos achar que, de fato, o amor incondicional é um deboche com quem sofreu a agressão, culpar o outro e viver com aquela dor até que o tempo faça cicatrizar. Somos nós que escolhemos.
Mas não se esqueça que não é porque você escolhe não olhar para esse amor incondicional que existe em todos nós que ele não exista dentro de você, dentro de mim ou que ele exista por si só. Basta reconhecê-lo.
Gratidão à Marilza que me ajudou nessa reflexão com esse comentário, no meu texto sobre Perdão:
"Belas palavras, porém amar incondicionalmente é, no minimo exagero. Perdoar é necessário, mas amar “incondicionalmente” chega a soar como um deboche, falta de respeito com quem sofreu a agressão. Isso se chama hipocrisia pura. Lamento, mas de hipocrisia eu já estou farta. Me “perdoe” se meu comentário não foi dos mais agradáveis, entretanto tenha certeza de uma coisa: foi o mais sincero. Tenha um ótimo dia."
Querida Marilza, não há nada para perdoar, apenas agradecer. Te amo de forma incondicional e por você ter me ajudado nessa reflexão.