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           Quietos e parados, Mateus e eu, em frente ao elevador do nosso andar. Eu estava com as chaves na mão e ele me olhando como se quisesse dizer algo. Parecíamos dois estranhos, esperando para nos cumprimentar. Aqueles poucos minutos me pareceram uns dez. Parecíamos dois desconhecidos. Não éramos.

           Depois daquela noite, parecia que não íamos nunca dar certo. Nenhum de nós dois tinha coragem de dizer alguma coisa primeiro, então como sempre, ele foi o mais forte e disse: “odeio gritar com você”, e eu só chorei, por ser a mais fraca.
           Eu não entendo porque tornávamos a brigar sempre que alguma coisa não saía como queríamos, e daí se as coisas não corressem como o planejado? A gente não pode ter tudo que quer, o tempo todo. “porque brigamos tanto?”, perguntei.
          Sem respostas girei minha chave para abrir a porta, sabíamos que logo minha mãe chegaria e eu o deixaria ali como se nem o conhecesse. Ou ele fazia alguma coisa rápido, ou vai saber quando íamos poder falar disso de novo, a sós.
           Se não fosse pela vontade dele repentina de me beijar, eu teria entrado em casa, ligado o chuveiro e o rádio e tudo daria certo, não iria mais chorar. Mas ele veio até mim e apertou minha bochecha como fazia quando queria me fazer rir. Mas não sei porque... não consegui rir... nem sorrir. “odeio brigar com você, me desculpa” eu disse me esquivando do seu beijo. “Se pede desculpas, porque foge do meu beijo?” ele disse sorrindo com o canto da boca.
           Eu não sabia como responder. Deixei pra lá, entrei em casa e ele logo atrás. Voltou a me beijar, como se quisesse alguma coisa. “não vamos transar”, avisei. E insistiu no silêncio, que concordava comigo. Ele sabia que era o que eu queria, por isso me provocava. Mas sabia também que não ia acontecer. Tão cedo. Até decidirmos onde isso tudo ia parar.
           Nosso romance não poderia ir tão longe ainda, do nada. Nunca entendi porque nunca foi. Não passava da linha de satisfação para nenhum de nós dois: nem de um namoro, pra mim e nem de sexo, para ele. A linha que separava os dois era o amor, acho. Já fazia mais de um ano isso.  Enquanto as outras pessoas com quem nos envolvíamos tinham os dois, namoro e sexo, com a gente não. Mesmo ambos querendo... aparentemente... os dois.
           E continuava me beijando e dizer que queria me beijar. Entramos e fechamos a porta. A maneira que Mateus me beijava não me fazia parar de chorar. Era fraca na sua frente e isso me fazia infantil. Minha moral deve baixar quando isso acontece. Nosso beijo tinha o gosto salgado da minha lágrima. Ele me levou pro sofá, como sempre, e me fez deitar no seu peito.
           Aquilo me acelerava o coração, quando eu encostava meu corpo no dele, me sentia segura. E ficamos ali, olhando para a mão do outro. Eu adorava quando me abraçava e passava a mão no meu cabelo, sem dizer nada. “odeio brigar com você”, eu disse mais uma vez. E, como se já tivesse se esquecido, sorriu e me beijou de novo. Era ele que sempre me beijava.
           Pensei em tocar no assunto. Porque não damos certo de uma vez, não é mesmo? Mas não consegui dizer nada. Sorrimos e começamos a falar sobre outro assunto. Do nada ele se levantou. Arrumou a camisa. Foi até a janela. “sua mãe tá chegando”, era hora de nos separarmos. Porque brigávamos tanto? Porque não dávamos certo? Não dava pra entender. Ele abriu a porta e saiu.
           Minha mãe entrou em casa, quase no mesmo momento. Eu estava sozinha na sala. “andou chorando, de novo?” ela perguntou. “não, mãe, deve ser uma gripe”. O Jorge, meu padastro, tinha chegado junto com ela. “Aposto que você e o Mateus brigaram de novo, brigam mais que irmãos de verdade. Ele está no quarto?” Balancei a cabeça positivamente “Vem jantar, filho”, gritou. Não sei o que vai acontecer com a gente, sei que assim não pode ficar.