Nunca fui à viagem mais chata que essa. Minha mãe é a protegida do chefe e fomos todos para o sítio dele. Ela fez questão que eu fosse não sei o porquê, ela sabia que eu ia ficar entediada e poderia aprontar. Levei muitos livros, revistas, meu computador e meu Ipod pra ver se o tempo passava mais rápido.
Não tinha ninguém da minha idade, mais próximo dos dezessete só dois pirralhos, um de doze e outro de dez. Não tinha muita gente, só o pessoal do RH da empresa em que minha mãe trabalha. O dono da empresa e sua esposa. O chefe da mamãe, que é viúvo, e sua nova namorada. Mais dois casais que desconheço quem são e o que fazem lá. E o pai das crianças, um dos coroas mais novos de lá e sua noiva, uns dez ou quinze anos mais nova.
Nunca tinha me interessado por homens mais velhos, sempre namorei ou tive casos com pessoas da minha idade ou dois ou três anos mais velhas, não que eu enxergue problema nisso, de jeito nenhum, várias amigas minhas ficam com homens mais velhos – e às vezes até casados – mas comigo nunca tinha acontecido. Quando eu o vi entrando na sala, nem consegui prestar atenção no meu livro porque ele não era bonito como os caras com quem eu saio, mas ele era realmente interessante...
Eu só podia estar louca, pensei na hora. Ou será que era carência e falta do que fazer que havia me dado vontade de fazer coisas de louco? Comecei a prestar mais atenção nas apresentações formais do que no que eu estava fazendo. Ouvi dizer que as crianças eram dele e que estava noivo da mulher que estava com ele, e que a mãe dos filhos dele casou há um ano com um americano, e é claro que isso tudo tinha sido dito pelo cara que eu desconheço, mas sei que ele era o mais sem noção possível. Entretanto foi bom para eu saber de sua origem.
Ele veio me cumprimentar com um aperto de mão, mas eu logo levantei e tasquei um beijo em sua bochecha, sem malícia, é claro. Ele cheirava bem e tinha um jeito de velho excêntrico ou metido a meninão. Tinha pelo menos uns 45 anos, certeza. Ele estava sem camisa e dava pra ver seus pelos brancos pelo corpo inteiro e quando virou, vi no topo de sua cabeça um cabelo tornando extinto. Sua barriga era saliente, mas nada desagradável. O que me incomodava nele, na verdade, era a noiva que estava atrás dele o tempo todo.
Logo que cheguei, tinha escolhido meu lugar de leitura numa rede em frente ao quarto em que eu e minha mãe ficamos que dava para o jardim da frente. E ali permaneci sem fazer esforço algum para me enturmar ou mostrar entusiasmo. Ele deixou a noiva-chiclete e os dois filhos com as outras pessoas. Passou por mim até chegar na cozinha e me sorriu. Sorri de volta, como se nada tivesse acontecendo. Voltou sem nem ter entrado no cômodo. Passou bem perto de mim, como se olhasse o que eu estava lendo ou pior, meu decote ou minhas pernas. Ele se sentou bem em frente onde eu estava em outra rede.
Ficou me olhando como se quisesse puxar assunto, então eu o fiz:
- Você é do departamento da minha mãe?
- Sou sim. Trabalho com ela há 3 anos. Já ouvi falar de você, mas achei que você era mais nova, Antônia.
- Certo. Legal. – Fiquei vermelha.
- Adoro o livro de Woody Allen.
- É o primeiro que eu leio, estou gostando.
- Vou pegar uma cerveja, quer uma?
- Minha mãe não sabe que eu bebo. Sussurrei.
Ele riu. Odeio que riem de certas circunstâncias. Eu não bebia na frente dela para ela não achar que eu sempre faço isso, o que aconteceria se ela descobrisse. Surpreendeu mais quando ele disse:
- Posso saber o que mais você faz que sua mãe não sabe?
- Eu fumo.
- Cigarro? Isso mata!
- Eu sei, papai!
Ficamos em silêncio, eu sei que meu pai não agiria assim comigo se ele soubesse que eu fumo, ele simplesmente não falaria nada, mas os pais, estereotipicamente falando, falariam exatamente isso, mas acho que ele não entendeu porque agiu como se meu pai falasse assim comigo.
- O que mais?
- Mais nada, eu disse. “Fumo maconha e faço sexo, seu coroa cara-de-pau, algum problema?” pensei.
- É... E saiu.
Quando ele chegou, abriu a cerveja e pegou do bolso um maço de cigarro e um isqueiro ridículo com a bandeira do Brasil estampada.
- Filho da mãe, você fuma! Faz mal.
- Eu sei, mamãe.
Nossa, que engraçado que ele era – HÁ HÁ HÁ - Eu quase caí da rede quando ele disse aquilo. Nossa. Que imbecil. Que idiota. Que gostoso que ele estava bebendo e fumando. Isso sim, eu sempre me interessei pelos malandrinhos que bebem e fumam, talvez seja por isso que eu entrei nessa vida de boêmia. Eu tinha que me concentrar: ele tinha noiva e ela estava bem ali, tinha dois filhos e eles eram só 5 anos mais novos que eu. Como será que era o resto que eu não vi debaixo daquela roupa, fiquei pensando. Concentre-se, pare de pensar nisso.
- Quantos anos você tem, menina?
- Dezessete, e você? – Nossa, que pergunta idiota para se fazer para um tiozão.
- Não se pergunta isso para pessoas da minha idade.
- Ah, você ainda é moço.
- Já passei dos quarenta.
- Até chegar aos 50 dá para o gasto.
Ele riu e agradeceu. Saí de lá e guardei meu livro e Ipod. Estava interessada em conversar com ele e descobrir mais sobre suas expectativas para comigo. Fui dar um pulo na piscina, onde encontrei seus dois filhos brincando. Eu até gosto de criança, mas não me vejo sendo a nova mamãe dessas. Cruz credo. Tomei uma ducha e logo pulei. Quando eu saí, ele estava lá, sentado em um das cadeiras de piscina, perto dos filhos. Fumando, bebendo e me olhando. Além de já estar com vontade de fumar, estava com vontade dele.
Minha mãe estava com a noiva dele na sala, jogando buraco, coitada dela. Como ela estava ocupada e distraída, fui até o quarto e peguei minha bolsa. Penteei meu cabelo para disfarçar, sentei na cadeira atrás de uma árvore e peguei meu maço de cigarros, que só tinha dois. Acendi o primeiro. Fumei o mais rápido que pude para que minha mãe não me pegasse com a boca na botija. Ele olhou pra mim e piscou. Nada respondi.
Ele levantou de onde estava e foi tomar uma ducha, que era próximo de onde eu estava, a água caindo em seu peito escurecia seus pêlos e ao apreciá-lo, esqueci de toda situação. Dei por mim quando ele puxou a sunga para molhar o que quer que tenha dentro dela e bem nessa hora, olhou para mim. Desviei o olhar. Ele percebeu que fiquei encabulada. Riu, desligando o chuveiro e pulou na piscina. Babaca! Vou processá-lo por corrupção de menores. Ou sedução, o que cabe mais no meu caso. Virei a cerveja dele que estava esquentando. Fumei meu último cigarro e percebi que se eu quisesse fumar de novo, teria que pedir para ele. Bufei e ele, saindo da piscina, ouviu.
- Fala garota.
- Falar o que? Acabou meu cigarro.
- Eu trouxe dois maços, mas se quiser, podemos ir à cidade para comprar o seu.
- Não, obrigada.
- Chata.
- Eu?
Ficamos em silêncio. Porque eu era chata? Chato era ele que tinha noiva e era todo gostoso. Duvido que as crianças e a noiva dele fossem para cidade com a gente. Ele estava louco para me atacar de qualquer jeito e ainda viu que eu dava bola, aí sim. De jeito nenhum queria ficar sozinha com ele, se não, eu podia não me aguentar. E o evitei o máximo que consegui até a noite.
Quando todos foram dormir, inclusive ele, coloquei para assistir o filme que levei em DVD. Um romance policial, meu preferido. Fiz uma pipoca de microondas, e quando estava quase acabando, ele levantou para “pegar um copo d água”, como ele se referiu.
- Ei, pequena, não devia estar dormindo?
- Não. Estou assistindo um filme.
- Já está acabando?
- Sim, faltam 10 minutos. Disse sem tirar os olhos da tela.
- Perdi o sono. Disse-me encostando-se ao sofá do lado.
- Pensando em mim? Sorri olhando pra ele.
- Talvez. Está calor.
Acabando o filme e a pipoca, enquanto eu arrumava o sofá, tirava o DVD do aparelho e desligava tudo, ele foi buscar um maço fechado de cigarros e algumas cervejas na cozinha e me pediu, com a cabeça, que o acompanhasse. Fui atrás, rezando para conseguir resistir qualquer coisa que pudesse acontecer. Já se passava das duas da manhã e o jardim não ficava perto de nenhum quarto, portando pudemos conversar, beber e fumar o quanto quisemos.
Conversamos durante quatro horas e nessa altura já tinha bebido mais de cinco latas de cerveja e tínhamos fumado todo o cigarro do coroa. Conversamos sobre vários assuntos nada a ver, e algumas vezes ele soltava umas indiretas – bem diretas - sobre meu corpo ou sobre minha maturidade. Falamos um pouco sobre sexo, mas não comentei sobre minhas experiências, mas ao mesmo tempo, não me fiz de santa. Ele me revelou sua idade verdadeira, quarenta e um. E de sua noiva, trinta e três. Não era assim, tão mais nova que ele. Ele era um coroa realmente gostoso e gente boa, mas consegui resistir à tentação quando ele se aproximou do meu ouvido e disse “você é realmente gostosa.” E eu disse “sai pra lá, seu velho, vai pegar minha mãe” e comecei a rir pedindo desculpas.
Ele levou na brincadeira e disse que ia dormir, estava quase clareando e ainda tínhamos que nos livrar das latas de cerveja – doze ao total – e eu, do cheiro de cigarro e de minha calcinha úmida até minha mãe acordar. Não que ela fosse ver ou sentir minha calcinha, isso foi só uma piada que eu contei para ele. Jogamos as latas na lixeira de trás e mandei ele pra dentro que eu ia pular na piscina. Tirei minha blusinha e minha saia e pulei de calcinha. Já estava sem sutiã, não gosto muito deles. Mergulhei e quando voltei à superfície, ele estava na sala me olhando, apontando pra baixo – idiota – e rindo. Mostrei o dedo do meio pra ele e ele um beijo pra mim e saiu.
Como o vento da manhã estava gelado, saí logo e me sequei com minha roupa e fui dormir. Acordei lá pelo meio dia e ele também. Estranharam mas não relacionaram nossa sincronia. Era nosso último dia e fomos simpáticos um com o outro, mas ele se mostrou mais incomodado do que eu, por eu não ter feito nada de errado e ele, claro, ter pisado muito na bola com sua noiva. Ele disse que nunca tinha traído ela, mas até parece que eu acreditei.
Ao se despedir de mim, pedi para que ele não contasse para minha mãe nada do que acontecera na noite anterior. Ele pediu que, pelo amor de Deus, eu também. Eu agradeci os cigarros e ele apontou para a bochecha dele como se pedisse um beijo. Coisa de “TIO” fui fazer a vontade dele, e ele virou o rosto. Não fui na dele e o beijo pagou na ponta dos meus lábios. Apenas sorri e disse tchau, passando a língua nos meus lábios de olhos fechados. Quis provocar. Consegui. Ele tremeu e eu fui embora.
Depois de uns dois dias ele me ligou em casa e pediu o número do meu celular, que eu não passei. Disse que não pensou em outra coisa nos últimos dias a não ser em mim e que eu tinha o deixado louco. Eu disse que não foi nada, que deve ter sido a vontade de estar com uma menina bem mais nova e não nada que não passasse rápido. Ele perguntou o que eu tinha causado nele. Eu respondi curta e grossa:
- Tesão, só isso.
- Duvido. Você sairia comigo qualquer dia desses?
- De jeito nenhum...
Conversamos durante mais cinco minutos até eu me cansar e desligar o telefone. Ele era realmente muito legal e gostoso, se ele fosse solteiro eu poderia sair com ele, mas esse lance de noiva, dois filhos e ex-mulher, a mãe dos filhos, não era comigo, muito problema pra uma cabeça só. Foi legal enquanto não tinha nada pra fazer. Foi interessante enquanto ele era o único cara com quem eu podia conversar abertamente. Só que agora, de volta à cidade, com certeza encontraria caras muito mais interessantes, sem pêlos brancos ou careca aparecendo. O problema é que continuo carente. Alguém se candidata?