Eu me lembro das nossas festas de aniversários, a minha era em um dia e a dele era em outro, o que fazia a cabeça de nossa mãe dar milhões de voltas, nos últimos anos ela não teve o mesmo pique de ficar montando festas, não que agora nós precisássemos dela, afinal de contas, depois de certa idade, os aniversários são comemorados cada um por si ou uma comemoração simples em família.
Esse ano nosso aniversário foi na semana do carnaval, foi uma comemoração emocionante, foi como um evento “o aniversário dos gêmeos, não posso faltar”, todos os irmãos presentes, música e conversas, presentes, ganhei uma guitarra de presente, azul, uma das minhas cores preferidas, eu não me lembro o que meu irmão ganhou, mas deve ter sido algum acessório pra guitarra dele.
De presentes mesmo eu só me lembro desse ano e quando nós fizemos oito anos. Ganhamos, os dois, um vídeo game, minha mãe me chamou de canto e disse que tinha um presente especial para mim, por que sabia que meus irmãos não iam deixar eu curtir o presente dos dois, o tal vídeo game. Então, quando abri o embrulho vi o presente mais lindo de todos, um fogãozinho que ligava a luz, fazia a água borbulhar, foi perfeito. E realmente, como meus pais imaginaram, meus irmãos não deixavam muito eu jogar o vídeo game, então ia sozinha brincar de casinha com meu fogão a pilha.
De todos esses anos, desde que nascemos, estamos morando longe somente esse ano, e há uns anos que ele foi morar no Canadá. Quando ele estava morando no exterior, nós não nos vimos um dia sequer. No decorrer desse ano que ele está morando no interior, nos vimos algumas vezes, nos falamos sempre e ele não está tão longe.
Por mais que não pareça, sempre que eu o encontro, o vejo diferente, mais maduro, mais cabeludo, mais afinado, mais ou menos responsável, mais amigo, mais dorminhoco e mais bagunceiro…
Ontem eu estava olhando pra ele, com seus um metro e oitenta e pouco de altura, suando, tocando e cantando, nós não somos mais os mesmos: não somos mais quem éramos quando ganhamos nosso vídeo game, não somos mais crianças comparadas pelos professores na escola. Somos quatro pessoas totalmente diferentes, eu e ele, anos atrás e eu e ele agora.
Enquanto ele me apresentava para os amigos e colegas dele, ele ia dizendo que eu era sua irmã gêmea, as pessoas não pareciam acreditar, eu sei que ele dizia para as pessoas não acreditarem, imagina, somos totalmente diferentes, nem de perto nós parecemos gêmeos, acho que nem nossos próprios pais acreditam que somos gêmeos. Ah! E não estou só falando de diferenças externas, essas são as características que os outros podem ver, mas eu e ele (e todos aqueles que nos conhecem), sabemos que nossas personalidades não tem nada a ver, eu tenho um gênio totalmente diferente que ele, parecemos sim, duas pessoas que nem da mesma família são.
Quando eu falo isso minha mãe fica chateada, mas é verdade, não parecemos gêmeos nem irmãos, não que eu precise provar para qualquer um e nem pra mim mesmo que somos gêmeos, acho que só de eu precisar dele já é a maior prova de todas, só pelo amor que envolve os dois, já basta.
Algumas coisas não são feitas para acontecerem, umas não são feitas para estarem sempre juntos e algumas outras coisas não foram criadas para ficarem separadas, essas coisas, essas pessoas, almas gêmeas, irmãos gêmeos, são feitos para ficar sempre juntos, por que se não fossemos feitos para ficarmos juntos, nós não teríamos ficado nove meses na barriga de nossa mãe juntos, nos chutando, teríamos nascidos separado, como todos os outros irmãos.