Na tarde de domingo de carnaval, minutos antes do sol se pôr, fui me refrescar do calor quase insuportável que fazia na praia deserta e abafada do litoral de São Paulo. A paisagem se limitava a uma montanha em cada lado do mar com seu horizonte profundo e o céu em três ou qutro tons de azul em dégradé.

              Ao mergulhar no mar calmo quase sem ondas, meu corpo se debruçava nele de costas, boiando mesmo contra minha vontade e me acalmava como sempre fazia. Deitada sem pensar em nada, sentia as ondas me beijando e o salgado se assemelhava com o gosto de suor dos impessoais desconhecidos com quem eu faço alguma espécie de amor.

              Percebi que as ondas vinham em cima do meu corpo com vontade e paixão, o sol estava se escondendo, parecia envergonhado, mas ao iluminar todas as cores, as realçavam: o verde das árvores das montanhas, os tons de azul do céu e o verde claro da água. Poucos raios restavam para ser testemunha do prazer que estava tendo naquela praia.

              Entendi que o mar queria me ter. “Será que não é pecado?” Pensei. Claro que não, a natureza está lá para aproveitá-la. Sentia a água batendo diretamente em cada parte do meu corpo, como se estivesse totalmente nua. Comecei a me oferecer para que o mar me usasse como ele sempre sonhou em usar uma mulher. Estava me sentindo como num quarto de motel, mas a sensação era muito melhor.

             Sentia o vento gelado nos dedos dos pés, no joelho, na minha barriga, em meus seios e em meu rosto que não estavam sendo cobertos pela água e quando vinha uma onda e eu expirava para a água não entrar em meu nariz, perdia a concentração e um pouco do que eu estava sentindo, mas o arrepio era tão forte que a sensação voltava novamente e eu ficava cada vez mais excitada.

              Eu estava à procura de um orgasmo que nunca tinha tido. Ele não dependia de homens ou mulheres, imagens ou sons, Acessórios ou toques eróticos. Não dependia nem mesmo de mim, era algo totalmente químico e físico, nada psicológico. O mar era a maior fonte de excitação que eu já experimentara e eu queria que aquilo durasse para sempre.

              A cada onda que cobria meu corpo inteiro e me pressionava para baixo, era semelhante, mas muito melhor, quando um homem me penetrava. Eu inevitavelmente soltava gemidos e sentia que o orgasmo estava cada vez mais próximo. Meu corpo endurecia e me arrepiava, gemia às vezes baixo, às vezes um pouco mais alto.

             Quando senti meu corpo inteiro fazendo parte da natureza, o prazer chegou ao auge e durou pelo menos uns três segundos. O sol foi deixando o último rastro de luz, eu me contorcia, uma onda veio violenta e espumante e me cobriu toda, o que só aumentou meu prazer, como se o mar tivesse ejaculado em cima de mim. Os verdes das montanhas ficavam mais escuros e o calor do orgasmo e o frio do vento e da água acusavam que a sincronia entre meu corpo e o mundo estava completa.

             Ao sair do mar, parecia que ele me acompanhou como um legítimo cavalheiro, até a ponta. Mesmo o homem mais gentil com quem eu já dormi, não foi mais do que o mar. Se despediu de mim molhando minha panturrilha com uma água fria e mesmo com vontade de ficar mais, fui me afastando de lá.

             Quando encarava as pessoas, por estar extasiada e contente, parecia que me olhavam como se soubessem. Os homens pareciam que sabiam e percebiam meu sorriso malicioso, mesmo tentando disfarçar. As mulheres pareciam não entender e me olhavam com inveja. A única semelhança ruim do mar com os homens é que depois eu tentei repetir o que tinha acontecido e não consegui, ele não deixou acontecer de novo. E eu pensando que ele era diferente.