Já fazia um bom tempo que estávamos saindo. Não era nada comparado aos meus contos de fadas, nada em especial nem para mim e nem para ele. Pelo menos era o que eu pensava que era.
Todas as vezes que nos encontrávamos era assim: beijávamos-nos, nos tocávamos e íamos embora, nos despedíamos na frente da minha escola quando ele, ilegalmente, pegava o carro de sua mãe para me levar a tempo antes da última aula acabar, para voltar para casa com meu irmão mais velho “onde esteve no intervalo?” perguntava quando não me via nos corredores “na sala, estudando” mentia.
Nunca passava disso, ele sabia que eu nunca tinha feito nada além do que fazíamos como outras pessoas. Ele sabia que não ia ser o primeiro, ele não era o cara certo para isso.
Só que estávamos juntos há muito tempo, já sabíamos tanto da vida do outro que nem precisávamos ficar conversando por que não tinha nada do que falar.
Então, um dia estava muito carente e a primeira coisa que me passou pela cabeça foi ligar para ele. E eu não sabia por que. Eu tava brigada com meus pais e perguntei se podia ir a casa dele, ele estudava a noite, então mataria mais uma aula. Ele até disse que sim, mas num tom nenhum pouco animador. Eu não sei por que querer ele e não, por exemplo, minhas amigas.
Eu realmente não sabia da onde essa vontade vinha, fui a casa dele e, naquele dia chegamos até o fim e não foi ele que ficou insistindo. Ele me levou para a escola na hora do intervalo por que eu tinha uma prova depois, mas ao invés de entrar fiquei andando pelo bairro, tomei um Milk Shake e sentei no banco do ponto de ônibus e comecei a chorar.
Chorei tanto que estava soluçando, percebi que nunca mais íamos nos encontrar como antes, não espontaneamente. Eu acho que ele só queria o que aconteceu com a gente naquela manhã, mesmo. Ele se despediu de mim como se não nos conhecêssemos há cinco ou seis anos. Deu tchau sem dizer “te ligo” como sempre fazíamos. Não, ele vai totalmente me abandonar depois de pegar a minha virgindade para ele.