“É uma daquelas duas…” eu disse. “São as duas lindas, qual você acha mais bonita?” Perguntei. Não dava para saber, a morena era a Mariana e a ruiva era a Natália, não dava para saber quem era a mais bonita. Mariana usava roupas coloridas e descoladas e Natália era elegante com roupas de camurça preta, as duas de salto alto.
Elas estavam uma ao lado da outra, encostadas na parede, tinham um metro e tanto, eram magras e com cabelos soltos sobre o ombro.
A ruiva de preto chamava muito mais atenção, mas a morena tinha uma alegria estampada em seus olhos. Mariana tinha olhos mais puxados e Natália, mais redondos. A boca das duas eram carnudas, e cada uma um nariz perfeitamente diferente.
Respondendo minha pergunta, ele que era sério, disse que achava a morena descolada mais bonita, meio sem paciência com minha dúvida com quem ficar. Mesmo com a opinião dele, que talvez até tivesse importância, ainda preferia a beleza da Natália.
Olhei de novo para as suas mãos, seus cabelos, seus lábios, era exatamente o que eu sempre quis, desde a primeira vez que eu a vi eu soube disso.
Atravessamos as estantes, esbarramos em todas as loiras, morenas, ruivas, baixas, altas, crianças, mães e pais que estavam por ali. Cheguei perto das duas, olhei para Mariana de novo com aquelas roupas iguais das outras meninas tentando ser diferente, mas Natália me ganhou.
Ao olhar para os olhos de Natália, vi um olhar vazio, triste e melancólico. Um olhar sem vida, mas não tinha problema, pois não podia existir vida em uma boneca. Peguei a caixa onde ela estava, a agarrei com meu corpo por que minhas mãos não agüentaram, sorri para o meu pai, ele não estava mais sério, sorriu para mim e pegou com as mãos o meu presente de aniversário de noventa e oito reais.