trilha sonora aí pra quem curte 😉

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- Hum… E quem é Henrique? – ele me perguntou, com um pouquinho de ciúme, enquanto esperávamos nosso lanche, sentados na mesa.

- Ah… O Henrique? Puxa… Como você sabe dele?

- Ouvi por aí… - deu nos ombros.

- Ah. Bom, ele era, ou é, meu melhor amigo. – falei colocando os cabelos atrás da orelha, enquanto colocava minhas pernas de índio em cima do banco estofado – Ele é o único que me entende, algo que a maioria das vezes minhas melhores amigas não conseguem fazer. – disse sorrindo, relembrando.

- Ele é gay? – perguntou curioso.

- Poderia ser, mas não é. Aliás, todo mundo pergunta por que a gente não namora. Não sei, na verdade. Eu tenho medo de perdê-lo e costumava ter  certeza de que se ficássemos, o encanto ia acabar. Mas parece que já acabou… – desabafei.

- Por quê? O que aconteceu? Onde está ele agora?

- Não sei, ele não me atende mais, fala pouquíssimo comigo quando nos encontramos na escola e no MSN. Acho que ele ficou com ciúme de alguém, ou eu fiz algo para ele.

- Ele pode ter ficado com ciúme de mim, não? Estamos tão próximos…

- Não tenho tanta certeza… Mas depois que você apareceu, eu tenho tido menos tempo para os amigos, inclusive pra  ele. – eu disse um pouco confusa.

- Nem adianta tentar, não vou me sentir culpado. – disse ele preparando-se para comer seu hambúrguer que acabava de chegar.

- Não precisa, é uma escolha minha estar com você – estendi minha mão para encontrar na sua – acho que foi o curso da vida, sabe, a gente nunca sabe para onde a vida nos levará. E outra, ele já estava estranho antes de você aparecer na minha vida.

- Porque você não tenta se aproximar dele?

- A verdade é que eu já tentei. Já tentei de todas as maneiras, mas ele sempre diz o mesmo, que está ocupado, que está isso, que está aquilo. Outro dia ele mentiu pra mim e disse que estava ficando com uma menina da nossa classe.

- Mas por que mentiu? E como você sabe que era mentira?

- Eu descobri mais tarde, alguém me disse, sei lá. E fui sacanear ele, perguntando por que havia mentido pra mim e ele me evitou.

- Mas que chato, desencana dele. A verdade é que eu fico feliz por você não ser mais amiga dele.  – ele disse, virando os olhos e com um sorriso sarcástico.

- Qual o problema? Você nem o conhece. – respondi incomodada.

- Bom… Vocês são tão próximos que eu certamente ficaria com ciúme. – tentou se explicar, tomando um gole de guaraná.

- Duvido. Eu sei separar os amores da minha vida. Amigo é amigo. Família é família. Namorado é namorado. Todo mundo tem lugar no meu coração – eu disse, roubando uma batata do prato dele.

Ficamos em silêncio. Comemos um pouco mais de nossos lanches. Enquanto nos olhávamos, pensei em todos os momentos que havia passado com Henrique e como nós nos gostávamos. Comecei a perceber que sempre que eu fecho os olhos, eu penso nele, em mais ninguém, por mais que eu tente. Quando algo novo e bom acontece, é com ele que eu quero compartilhar.  

Lembrei-me da vez em que nos conhecemos e que ficamos amigos. Lembrei-me de todas as vezes que ele foi assistir filme de mulherzinha comigo por que eu não queria ir com a turma assistir filme de terror. Era ele quem ficava comigo quando eu ficava pra trás, sempre. Quando nos metíamos em confusão, um livrava a cara do outro, um fazia companhia para o outro na sala da diretora, mesmo se o outro não tinha culpa. A gente sempre passava os recreios juntos desde a 5a série. E ele me fazia muito bem. Comecei a pensar na possibilidade de beijá-lo e mesmo assim não estragar nossa amizade. Fiquei vermelha, ele percebeu.

- A verdade é que eu sinto muita falta dele, ele é um grande amigo – eu disse, quase chorando.

- Você nunca sentiu vontade de beijá-lo, Ana? – ele me perguntou tocando minha mão, praticamente lendo meu pensamento, o que me arrepiou.

- Acho que não quero falar disso com você. – eu disse embaraçada, olhando para os lados.

- Desculpa a insistência, mas acho que você devia escutar seu coração. Não ficar com quem você acha que deve ficar, mas com quem você realmente quer ficar. Ouvi dizer que a pessoa que devemos ficar para sempre é aquela com quem conseguimos conversar sobre tudo, que tenha interesses iguais aos nossos e que consideramos uma pessoa amiga. Sabe como é, quando você ficar velha, não vai querer alguém bonito para passar o resto da vida, vai querer alguém interessante.

- Eu tenho você para passar o resto da minha vida…

- Ahh, Ana, eu? A gente não…

Quando ele estava falando, o interrompi com uma cara de susto por que aconteceu algo que eu achava simplesmente impossível de acontecer. O Henrique entrou no restaurante procurando alguém, e esse alguém era eu. Quando me viu, veio na direção de nossa mesa.

- Oi Ana. Estou atrapalhando alguma coisa? – Perguntou ele, olhando direto para minha companhia, que logo reagiu.

- Não, você deve ser o Henrique, né. – Ele respondeu, com a classe que tinha e estendeu a mão para cumprimenta-lo. Rique o ignorou, afobado.

- Posso falar com você, Ana… Sozinhos? – Ele me disse, em voz baixa.

- Rique, acho que não seria adequado… – nisso entrou também no restaurante Brenda, minha melhor amiga, que veio direto à nossa mesa e se sentou ao meu lado.

- Oi, gente. O que estou perdendo? Ana! Vai falar com o Henrique que eu faço companhia para o cavalheiro que está com você. – e os dois sorriram um para o outro, como se já se conheciam.

Ele me puxou e ficamos de pé, em um canto, afastados de todos.

- O que está acontecendo, Rique? Você e a Bre vieram juntos?

- Ana. Eu… Eu sei que eu ando estranho ultimamente…

- Eu estava pensando agora mesmo em você. E nisso. Na nossa amizade, eu queria que voltássemos a ser amigo, Rique, a gente se gosta tanto.

- Eu não posso Ana. Não posso ser mais seu amigo.

- O que eu te fiz para você não querer ser mais meu amigo? – eu disse, com lágrimas nos olhos.

- O que você me fez? Bom, você nasceu… – eu estava confusa –… com esse cabelo marrom claro maravilhoso cheio de ondas. – Ele acariciou meu cabelo, eu congelei. – Você nasceu com esses olhos esverdeados que eu me perco sempre que te encaro. Quando algo te faz chorar e inunda seu olhar, eu morro afogado. - Desviei o olhar – Você nasceu com essa pele morena que me enlouquece sempre que aparece depois de tomar sol. – voltei a encará-lo, encabulada. – Você nasceu com esse sorriso maravilhoso que me deixa querer fazer piadas só para você rir – sorri – tá vendo, esse seu sorriso faz eu não querer mais ser seu amigo… Eu estou apaixonado por você, Ana. – e sorriu de uma maneira que eu nunca tinha o visto sorrir.

Eu não sabia o que fazer. Ou o que falar. Fechei os olhos e comecei a chorar de verdade.

- Você está chorando? Por quê? Já sei você está chorando porque não me ama de volta e sabe que isso vai me magoar. Não precisa chorar, se você não me quer tudo bem, é só dizer. – e me abraçou, me envolveu em seus braços e me beijou a cabeça – não chora, por favor!

 - Rique, eu… – ele se afastou, eu olhei para a mesa que estava sentada antes.

- Você…? – ele olhou pra lá também. Os outros dois estavam olhando para nós.

Como eu não disse nada e só saía lágrimas dos meus olhos, ele suspirou, virou as costas e foi andando em direção da porta.

- Eu… Você também Rique amo – ele parou de andar e virou, confuso.

- Oi? - perguntou.

Droga, eu falei tudo ao contrário.

- Eu também amo você, Rique. E amo faz muito tempo.

Ele sorriu, veio caminhando até mim, pegou meu rosto e me beijou. O beijo mais gostoso que eu já tinha experimentado. Mas fomos interrompidos por um “ahahn” conhecido. Paramos de nos beijar e demos as mãos.

- Acho que meu almoço foi arruinado pelo verdadeiro amor. – ele disse, sério.

- Ah, nem vem, amigo, que você ajudou nisso tudo. – disse a Brenda, se aproximando e entrando na roda, dando cotoveladas nele.

- Como assim? – eu perguntei.

- Bom… - sorriu - Eu já sabia que vocês iam estar juntos, mas não sabia onde, então eu enviei um SMS para ele perguntando onde vocês estavam para poder trazer o Rique. Assim, ele se declararia e tudo ficaria bem. -  explicou Brenda.

- E tudo funcionou exatamente como o planejado. - ele disse.
- Impressionante! - eu disse.
- Pois é, Ana, eu posso ser velho, mas os avôs também sabem usar o celular, ainda mais por uma boa causa.

- Vovô! Bre… Obrigada! Estou muito feliz que você voltar para minha vida vida, vô.– E abracei os dois.

- Voltaram a ser amigos, então? – perguntou o vovô.

Olhamos um para o outro e ele respondeu:

- Não… Somos bem mais que amigos, somos namorados. – e ele me beijou mais – só uma coisa, Ana… Quando a gente for se beijar, tenta não comer carne antes… Lembra, né? Vegetariano! E me beijou mais e mais…


A autora é vegetariana e super a favor de amigos ficarem.