Esse é um texto sobre a consciência de outrofobias em geral. Não quero ser protagonista de nada que não sou, apenas quero expressar-me sobre isso. Não quero estar certa, quero expandir minha consciência e estimular que façam isso, lendo a mim ou fazendo qualquer coisa que expanda sua consciência.

Não quero estar certa, quero estar em paz.

"Duas são as situações e atitudes geradoras de empatia. A primeira atitude é da pessoa que se coloca no lugar da outra. A segunda atitude empática é a da pessoa que estimula a outra a se colocar em seu lugar. No primeiro caso predomina a capacidade de entender e no segundo a capacidade de se fazer entender." Sílvia Barros

Estou disposta a rever meus conceitos sobre tudo que eu disser, pois sou uma eterna aprendiz e SOU em formação. Partindo de premissas como compaixão, não julgamento e desapego de conceitos quadrados, todo argumento é valioso pra mim.

Todo mundo pode ganhar com o diálogo sobre o tópico, mas a autora é quem mais ganha simplesmente escrevendo e compartilhando.

Assumindo meus privilegios

 

Vivo de boa com meu heterossexualismo sendo uma mulher cis; casei com um homem e talvez tenhamos uma família no modelo tradicional, embora eu queira dar um liquidificador de brinquedo pra um potencial filho homem, pois cozinhar me libertou e pode libertá-lo também.

Sou branca bronzeada de sol. Ou seja, branca que todos admiram a cor quando fica morena. Aliás, isso é um baita privilégio, me orgulho de minha cor, além dos meus cachos.

Cresci sem me faltar nada, graças a Deus! Aliás, isso tudo me deu a oportunidade de, depois que me formei na faculdade, vir morar no litoral pra buscar minha paz interior com trabalho garantido. Não tenho a vida fácil, mas é mais fácil que de muita gente por causa de tanto privilégio.

Certo, agora você já sabe que minha vida é baseada em privilégios. Mesmo assim, sinto muitas dores do mundo oprimido por ser empática.

Por isso quero estimular que você sinta a mesma coisa que eu e as outras pessoas, com esse texto, rs.

Encontrei a paz ao absorver muita coisa boa do Universo e tenho tentado me manter nesse estado, no olho do furacão (onde em volta é caos e dentro é paz) - mas nem sempre dá (e minha vida se torna um furacão,  vejo vacas voando frequentemente).

Enfrento minhas sombras todos os dias, mas meu coração dói quando me deparo com outrofobia.

O que fazer pra manter a paz? Praticar o que tenho aprendido.

Haja meditação

 

Como disse, tenho buscado me manter em paz. Aí eu sou assediada na rua, o que acontece? O medo instintivo pela minha sobrevivência, por estar diante de outro animal, me consome.

No entanto, depois que comecei a trabalhar minhas feridas emocionais relacionadas ao fato de ser mulher (todas nós temos, por traumas reais ou simplesmente pela opressão histórica), esse medo diminuiu e agora eu tenho mais ou menos discernimento do que é perigo ou não e fico cada vez menos chateada com essa situação em que me sinto assediada. Peço ao Universo que me dê sabedoria pra eu lidar com isso da melhor maneira possível porque eu não vou conseguir mudar esses homens animalescos.

Haja meditação pra não disparar meu coração de medo quando um caminheiro me olha como se eu fosse um objeto sexual, para não me sentir como se eu só existisse pra satisfazer desejos sexuais alheios. Trabalho muito isso em mim.

Além de me sentir um pedaço de carne, me sinto desrespeitada em quase todo lugar, porque meus peitos e minha saia curta são mais importantes do que meus olhos, minha atitude e minha sabedoria. Nem vou entrar no mérito de outras opressões.

Ser mulher é um privilégio, mas não sempre

 

Na minha visão mais espiritualista, o medo de nós, mulheres, sermos atacadas é tão latente nesse momento da história da humanidade que manifestamos exatamente isso: homens animalescos prontos pra atacar.

Por isso meu movimento para me libertar dos "medos desnecessários". Decidi buscar manter o foco no perigo iminente, o que coloca nossa vida em risco. Só nesses casos, o medo é útil.

Isso faz bastante sentido pra mim.

Opa, então eu poderia pensar: "funciona pra mim, então a solução é todas trabalharem esses medos em si"?

Não! Porque cada mulher é uma! Nem todas acreditam em "cocriação", que atraímos nossa realidade. Nem todas as mulheres lidam com o medo da mesma forma que eu, portanto definitivamente não posso dizer que minha maneira faz sentido pra todas. Tem mulher que quer brigar, ser líder da resistência e eu as admiro por isso, o que seria de nós, sem elas?

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Só posso compartilhar como me sinto e, se faz sentido pra outras pessoas, ótimo. Se não, escrever já valeu pelo processo.

Toda mulher é única e perfeita, assim como os homens. O que nos faz desviar do caminho do amor são nossos medos, traumas e inseguranças. Se tem algo que funciona pra mim é trabalhar minhas sombras, em jornadas de autoconhecimento, sozinha e em grupo.

Pra mim, é um privilégio ter nascido mulher e poder sentir a conexão com a lua, sincronizada com meu período menstrual. É um privilégio saber que posso gerar uma vida se eu quiser. Espiritual e emocionalmente falando, eu me sinto bem pra caramba e privilegiada por sentir as coisas na intensidade e maneira que sinto por ter nascido mulher.

No entanto, no contexto social, o homem é privilegiado e a mulher é oprimida.

Isso é passado? Talvez você mesmo tenha oprimido sem saber. Quantas vezes nos sentimos oprimidas, mas por qualquer razão deixamos passar. Por serem nossos maridos, pais, irmãos, amigos... pessoas "de bem". A exemplo da hashtag #meuamigosecreto. Tudo isso é opressão, apesar de nem todas as denúncias parecerem.

Ser mulher pode ser considerado meu único não-privilégio, pois sofro com o machismo em praticamente todos os âmbitos da minha vida, mesmo que, graças a Jah, na minha direção seja bem sutil e percebo que a maioria das pessoas ao meu redor quer desconstruir.

Esse texto é um desabafo de quem só quer um pouco de empatia.

Olá, sou eu quem vai dizer como você deve levar sua vida

 

Eu te apresento o cenário, o pano de fundo, em que vivemos: qualquer um que não representa o "padrão social aceitável" é discriminado pelas próprias pessoas que são discriminadas em outro contexto. Confuso? Explico.

Uma mulher branca oprime a negra. O negro oprime o gay. O pobre oprime a mulher liberta. O trabalhador oprime o artista. Exemplos de situações que já presenciei. Todos querem que os outros se encaixem no padrão e, para desviar a atenção do "meu erro" por "eu" não me encaixar no "padrão social", prefiro apontar para quem tem um "erro" mais descarado, como os "erros" de militantes que lutam para que o respeito pela diversidade seja realmente estabelecido como padrão social.

É assim que vejo a sociedade, cheia de hipocrisia e repressão. Um apontando o dedo pro outro e esquecendo de se autoanalisar.

No Gabitopia, o respeito pela diversidade é padrão social.

Mas, até isso acontecer no Planeta Terra, todos tentam se encaixar no padrão vigente de beleza, status sociais, comportamento, relacionamento, etc... Padrões. Tentam tanto que acabam se encaixando e querendo que todos façam o mesmo.

Entretanto, quem somos nós pra dizer o que cada um tem que ser? Quem disse que, pra sermos nossas melhores versões de nós mesmos, precisamos seguir um padrão? Somos pessoas reprimidas querendo reprimir os outros? Por favor...

☆☆☆ Não se reprima ☆☆☆

 

A melhor forma de não reprimir o outro é não se reprimindo, porque quando reprimimos quem queremos ser, rejeitamos o que verdadeiramente somos no outro, projetando toda energia negativa no outro por não podermos ser aquilo que ele está sendo, pois inconscientemente não queremos que ninguém seja, já que não somos.

Entendeu? Não? Tudo bem, assiste ao documentário O Efeito Sombra que você vai entender, talvez.

Só quis dizer que, no meu entendimento, é por isso que tanto artista reprimido fica criticando filhos criativos. Por isso tanto homofóbico se descobre gay. Projeção.

Vamos focar em melhorar a nós mesmos antes de querer dar palpite na vida dos outros. Quem somos nós pra dizer o que o outro tem que ser?

O ser humano é ilimitado, o ser humano é mais do que uma carcaça pra trabalhar para a manutenção do sistema de sobrevivência... o ser humano é criativo, é capaz de criar formas otimizadas de viver, é capaz de contemplar a natureza e conectar-se com uma paz de outra realidade. Sério. Ser humano é ilimitado e já provou isso.

Por isso, o ser humano pode ser o que ele bem quiser, ter as nuances que quiser. Não prejudicando as outras pessoas, fazendo as coisas pelo amor e bem, porque não abraçamos as diferenças? Por que ficar tentando provar que o outro tá errado?

Eu mesma, não quero que você seja gay ou que deixe de ser gentil com as mulheres, apenas estou sugerindo que abrece a diversidade e, caso não queira abraçar e se sinta na necessidade de "ir contra",  que não interfira na liberdade dos outros ditando regras para os outros ou excluindo de direitos fundamentais.

Cada Ser tem sua missão e, para cumpri-la, nós procuramos valorizar nossas habilidades e melhorar nossos defeitos, ou como alguns gostam de chamar, "nossos desafios". Já é difícil ser melhor do que fomos ontem, ultrapassando nossos próprios limites, imagina ter que superar isso e ainda ter que se encaixar nesses padrões sociais todos? Só de falar me sinto presa.

Pra mim, a forma mais simples de aceitar a diferença é praticar a empatia.

A tal da empatia

 
“E quando estiveres perto eu arrancarei os seus olhos e os colocarei no lugar dos meus. E tu arrancará os meus olhose os colocará no lugar dos teus. Então, eu te olharei com teus olhos tu me olharás com os meus.”   Jacob Levy Moreno

Quando comecei esse texto sobre outrofobia, assumi meus privilégios e me mostrei vulnerável por ser mulher.

Tenho certeza que você não se encaixa perfeitamente no que Hitler chamaria de "raça ariana" ou nas capas de revistas de hoje, não é mesmo? Mesmo as pessoas brancas de olhos azuis, será que não tem nada que elas sejam "diferentes" do padrão de Ser do sistema vigente? Não precisa ser gay ou trans pra estar fora desses padrões. Já viu as revistas e televisão? Uma gordurinha a mais, uma característica emocional diferente, uma ideia fora da caixa são "erros a serem corrigidos com nossas dicas e produtos".

Provavelmente você não se encaixa. Então, pra praticar a empatia, primeiro encontre em qual momento que você é discriminado por apenas "ser".

Se você é perfeito, mas se sente discriminado por ser preconceituoso (e se sente mal com isso), já serve de exemplo, porque, de alguma forma, o sistema está ficando politicamente correto (e com fé na Fonte Criadora outrofobia será marginalizado em breve, não necessariamente criminalizada, mas essa prática vai ficar obsoleta porque iremos evoluir).

Seguindo, então, reflita sobre o quanto você já sofreu por se sentir pressionado a se encaixar no "sistema". Será que você queria ser artista, mas o meio social te incentivou a ser médico, por exemplo? Pode acontecer e isso não é necessariamente errado. Penso apenas que passa a não ser muito legal quando somos reprimidos e descontamos nossos traumas e medos em outras pessoas, atrasando a vida delas.

Para praticar empatia, costumo pegar o sentimento desagradável de "ter que" mudar alguma de minhas características natas para me encaixar. Somo com outros momentos de repressão que eu passo por ser mulher, por exemplo. Subtraio todos os meus privilégios e multiplico pelo número de pessoas que militam pelas causas que eu nunca vou entender.

Não faço isso tão forçada, é só uma forma de eu analisar o que faço. Tampouco existe um número, mas pode ser medido por um peso.

Veja se funciona pra você esse exercício.

Medite sobre esse peso, veja como se sente. Se você se sentir mal, parabéns, você começou. Mas empatia é diferente de pena, e muito parecido, pelo menos pra mim, com compaixão.

Lembre sempre desse peso, mas sinta gratidão pelos seus privilégios. O peso vai diminuir, mas você vai poder dizer que já sentiu. E é apenas lembrando dessa sensação ruim que podemos praticar a compaixão por todos.

Ter compaixão é ter a convicção de que TODOS OS SERES merecem ser felizes independentemente de qualquer coisa.

É saber que não podemos julgar ninguém nem nada. É saber que cada um erra de uma forma, mas todos "erramos". É saber também que não existe um certo ou errado, necessariamente, mas que existem consequências de nossos atos. Para cada erro, um aprendizado diferente.

Muitas vezes julgamos a atitude ou escolha de alguém, sem perceber que o julgamento pode interferir mais na vida do outro do que as atitudes que a sociedade julga "fora dos padrões".

Considerações finais

 

 

Alisei o meu cabelo na adolescência e até hoje me pergunto porquê... Reconheço algumas lições disso, como "o que não quero pra mim". Mas não precisamos cumprir papéis sociais e agradar a todos pra sermos felizes, mas ser autêntica me ajudou a ser mais feliz.

Pra isso, "oro e vigio" minhas próprias atitudes. Se errei com alguém nesse ou em outros textos meus, peço desculpas desde já.

Todos merecem ser felizes, independentemente de qualquer escolha. Até mesmo os que fazem parte dos preconceituosos.

Mas... Se alguém interfere na sua paz "sendo algo diferente de você", você tem meios de se sentir menos prejudicado, por exemplo: se afastando de situações junto com essas pessoas, trabalhando seus gatilhos e praticando preceitos. Devo dizer que outrofóbicos tiram minha paz, mas meditar me ajuda a canalizar essa energia ruim para algo bom, como esse desabafo.

Não quero nem posso mudar ninguém, mas quando as pessoas entendem uma linha de raciocínio, podem tentar se comunicar comigo de forma coerente.

E, por fim, parto do princípio que estamos falando de pessoas que praticam o bem e são discriminadas apenas por '"ser", mas acho que TODOS merecem compaixão e perdão, até o pior dos bandidos. Mas não venha me dizer que conhece "UM GAY pedófilo", "UMA MULHER que quer SER MELHOR que os homens", "UM NEGRO bandido". Existe gente de todo tipo, vamos procurar não julgar, blz? Apenas expandir a consciência.

Não preciso ser homossexual pra lutar contra a homofobia. Posso praticar a empatia independentemente disso.

Liberdade para ser e respeito pelo que és.

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Sobre meu heterossexualismo: não é escolha

https://youtu.be/rqi-UTb9f9Y