Consideraçõs iniciais: 1) leia até o final, ou o final. 2) você pode dar play aqui em baixo para ouvir a música, mas saiba que a música trilha sonora que eu escolhi dessa vez é "As cores" da banda Cine (super dedicado ao meu amigo @_jotaerre), portanto, só ouça essa música se você não é da turma do "ai, eu não suporto Cine" ou se você não for do gruppie "ai, eu odeio Cine" ou ainda "Ai, Cine? Que droga de música". Não dê play se você não gosta de Cine - você vai ouvir Cine, e isso é um fato! Mas... Você pode também escolher uma música que você goste da sua playlist e deixar rolar, mas tem que ser romântica! Ou você pode fazer que nem meu amigo @IsaqueCriscuolo e ler sem música mesmo.
Ela estava sentadinha no ponto de ônibus, como de costume, foi ele que chegou pra converser com ela. Primeiro sorriu, como quem não queria nada, parecia querer só ser legal, e perguntou: “porque está aí ainda?” e ela, como se quisesse disfarçar a face vermelha de vergonha: “minha carona ainda não chegou... está atrasado mais de meia hora”... Ela já tinha falado com a carona, ele deveria chegar dentro de poucos minutos.
"E você?”, ela perguntou “tá esperando quem?”... eles se olharam, ele se sentou ao lado dela, disse que não esperava ninguém e que ia ficar ali com ela enquanto o atrasadinho não chegasse. “porque você faz isso comigo?” ela sussurrou. “Isso o que?” ele perguntou rindo. Ele fazia questão de ficar por perto, parecia que a cozinhava em banho maria.
O silêncio a dominava por saber que nada do que ela falasse poderia ser levado a sério ou iria fazer alguma diferença. Ele mantinha o silêncio porque qualquer coisa que falasse poderia mexer com toda estrutura emocional dela... Ele não sabia disso conscientemente, mas sabia.
“Porque você me olha assim?” ele perguntou. “eu? Porque você fica me olhando assim? Eu te olho como sempre olhei...” eles sorriram um pouco. “eu só estou te olhando. Olha pra mim, nos meus olhos... você tá cada dia mais bonita e... ” ele disse, tocando seus cabelos com as mãos, mas não conseguiu terminar porque ela o interrompeu, dando um tapa na mão no cabelo dela e olhando pra baixo: “tá, tá... chega, ok? Fique sabendo que minha carona é meu namorado... e eu tô gostando de namorar outra pessoa pra variar”. “Ah, ele não precisa saber...” ele disse entusiasmado. “Saber do que? Está louco?”, ela enfureceu. “Saber... de nós dois... eu... você...não?” ele começou a ficar em dúvida, uma dúvida estranha. “Não tem nada entre mim e você! Você tá maluco se acha que... faz, tipo, quase um ano que a gente não tem nada...” ela disse com raiva. “claro que não temos nada, estávamos tão longe... mas quando eu te ligava e você dizia aquelas coisas pra mim, e eu pra você... é claro que algo a gente tem... e agora que você voltou... podemos voltar a... sabe... nos ver?”.
Ele era maluco por ela, mas ela não sabia. Ela era doida por ele, mas ele não sabia. Desconfiava, mas não sabia. "Acho que é melhor ninguém nos ver de conversinha...” ela disse. “podíamos ser amigos!” ele falou. “Não. Tipo... eu já tenho amigos”. Silêncio. E ele falou baixo: “achava que amigos era infinito, não é assim, quanto mais, melhor?”, ela virou os olhinhos e disse: “não amigos como você. Olha... não vamos ficar de papo, eu não gosto dessas coisas, eu não gostaria que o meu namorado tivesse amigos como eu, então, não quero ter amigos como você...” e abriu um grande sorriso sarcástico. "Bonitas como você? Ou fodas como eu?” ele sorriu de volta, ela ficou séria e disse “fodas como EU! Eu sou facilmente pivô de qualquer separação.” E disse de um jeito como se ela fosse realmente confiante, e por um motivo que ela não conseguia entender, ele acreditava nessa confiança toda. “Ahhhh! Se você voltasse a me dar uma chance, eu largaria a minha namorada agora.” disse esfregando seu próprio rosto, como quando os meninos assistem a partidas de futebol e o atacante perde um gol feito.
Ela não sabia que ele tinha uma namorada, nunca o viu namorando e não fazia ideia que ele estava agora. “não estou interessada, ok?” disse, um pouco menos insegura. Nos pensamentos dela, ele era um idiota que não conseguia ver que ele não estava interessada, mas nos dele, havia a certeza de que ela o queria. Nessa hora, o telefone dela tocou. Era a sua carona, disse algo sobre não poder ir buscá-la, desligou brava e reclamou algo para si.
“O que aconteceu?” ele perguntou, “vou de ônibus. Com esse... tchau” e deu o sinal para o ônibus parar. Ele entrou também. Ela sentou no fundo. Ele sentou ao lado. Ela fez uma bola de chiclete, a estourou, bufou e disse: “Tem 24 lugares disponíveis, porque você insiste em sentar bem ao meu lado?” “você é minha amiga então é normal que duas pessoas que se conhecem...” “a gente não é amigo, cara!” ele abaixou a cabeça, rindo. “você está me provocando, eu tô ficando nervosa” e os dois ficaram em silêncio.
“Acho que seu nervo não é por causa de mim... digo... é por causa de mim, mas não pelo o que você diz que é...” ela o ignorou, estava olhando para a janela. “a gente podia voltar a ficar de vez em quando...” ela continuava ignorando “me disseram que você chorou por mim, outro dia.” Foi a primeira vez desde o ponto do ônibus que ela olhou nos olhos dele. “você acha que eu sou mulher de chorar por homem? Eu.. eu... nem ao menos CHORO, ainda mais por homem... E... se eu choro ou não, é problema meu, não se mete, dá licença, deixa-me passar.” disse brava, levantando-se.
Ela mudou de lugar, sentou mais pra frente, ele se sentou no banco atrás dela. “eu preciso te contar uma coisa...” ela olhou pra trás, impaciente... “não olha! só escuta." ele pediu, e continuou: "Eu não conseguiria falar isso olhando pra você.” Ela voltou a olhar pra frente. Desligou o Ipod que tinha acabado de ligar, respirou e derramou algumas lágrimas, olhando pra frente, enquanto ele dizia, devagar e com a voz trêmula: “eu sei que você não acredita. Sei que é difícil acreditar... mas eu gosto de você. Não sei se é gostar, nem sei o que é gostar. Mas eu sei que eu sempre preciso de você perto de mim. Por isso fico correndo atrás. A gente fica desde a 8ª série, você me viu em várias fases minhas, e eu nunca tinha sentido nada disso por ninguém... é tipo uma amizade, mas ao mesmo tempo... não é como as minhas outras amizades..." respirou, não sabia o que dizer mais... e continuou: "Antes, quando você estava por perto, eu não sabia que eu sentia isso... Mas quando você foi embora, eu comecei a sentir sua falta... e da falta comecei a sentir saudades, muitas saudades. E dessa saudade eu conclui que era porque eu sou louco por você.”
O silêncio se tornava algo insuportável e ele perguntou: “Entende?” e ela só respondeu: “não.”, balançando a cabeça. “Não entende? Porquê?” “Você pega todo mundo, me diz que tá namorando e agora me diz que gosta de mim? Realmente difícil de acreditar” e respirou fundo, entregando que estava chorando, e ele não perdeu a chance de dizer: “e quem disse que não chorava?”, essa riu, limpando os olhos molhados.
Ela continuava a variar seu olhar pra frente e pra baixo “você não vê?", não sorria mais... "Se eu virar pra trás agora, e dizer que sinto tudo isso por você também... a gente vai se beijar, ficar feliz por um dia ou dois e vou me iludir... porque amanhã vai esquecer que disse tudo isso. E eu sou a única que vou sair perdendo. A sua namorada vai continuar lá, que eu duvido que não a tenha traído já outras vezes... as outras meninas que ficam em cima de você... elas vão continuar lá... e eu não. Eu vou ter que pegar esse dia, guardar para sempre e enterniazá-lo, porque nunca mais vai acontecer. Não vê que é por isso que eu fujo de você, não vê que é por isso que eu não te digo a verdade?” ela disse, em um discurso rápido e frio.
E ele sem entender nada, disse: “Mas o que eu te digo é verdade e você tem que acreditar e... pera... você tá dizendo que gosta de mim, é isso?”, perguntou com esperança. “Não, estou dizendo que se eu dissesse...” Silêncio. “Eu não tenho namorada”, ele disse rápido e baixo. “e eu também nem tenho namorado”, ela disse sorrindo.
E agora? O que aconteceria? Ela viraria para trás e sorririam um para o outro? Depois se beijariam? Depois viveriam felizes para sempre? Talvez. Ou então, ele sentaria ao lado dela, limparia suas lágrimas, um sorriria para o outro e se beijariam. É um ótimo final, eu gosto.
O sentimento era real, era fato. Os dois se gostavam, e muito... Talvez desde a 8ª série. Quando ele decidiu ir se sentar ao lado dela no banco do ônibus, um amigo dele apareceu, sentou ao seu lado e começou a conversar com ele. Ela olhou pra trás, já sem lágrimas. Sorriu para o menino que também era seu conhecido.
O amigo nem percebeu nenhum clima entre os dois. Eles se olharam pela primeira vez depois da conversa mais séria que eles tiveram em 6 anos de 'romance'. Eles se olharam sorrindo, muito.
O conhecido mesmo assim não percebeu. Feliz, o apaixonado disse: “você conhece ela, né?!”, “Conheço sim! Oi, tudo bem?!” e ela sorriu pra ele, um pouco. “É! Que bom! Ela acabou... no minuto que você entrou no ônibus... de se tornar minha namorada”. O amigo deu um sorriso embaraçado e se levantou, se despediu dos dois e foi pra outra ponta. Ele, então, se levantou, sentou ao lado dela, e eles se beijaram.
Post scriptum (ou p.s.):
Um dia, talvez, eles terminem, não sei qual o final, mas também imagino que não tenham sido felizes para sempre. Pode ser que se casem, já estavam quase em idade de se casar. Pode ser que nem dure muito, que eles só tenham um filho fora de época e depois se separem. Não sei, não sei. Nem quero imaginar. Sei que ele foram felizes em se declarar um para o outro e tenho certeza que enquanto durou o relacionamento dos dois, eles foram felizes. E tudo porque eles se declararam, simples, talvez, assim. Acho que o importante não é o fim, como nessa história, todos já sabiam que iam ter um beijo no final, o importante e o que realmente vale a pena é o meio, são os olhares, as soluçadas, os sorrisos, cada palavra escolhida para cada momento. É assim com os textos, é assim com a vida.
PS2: não me questione porque romances em ônibus são comuns aqui no meu blog, simplesmente acontece!