Lourdinha costumava se apaixonar por caras que não queriam nada com nada na vida e que só se importavam com a pessoa que seu espelho refletia, foram os caras mais idiotas por quem ela já tinha se apaixonado e, sem dúvida, a fase mais idiota dela.

Quando se é adolescente, as pessoas deveriam se apaixonar por caras mais velhos, do último ano, de preferência os repetentes, ou então pelos amigos dos irmãos ou ainda pelos meninos de bandas do colégio.

Mas Lourdinha… Ela não conseguia… Ela se apaixonava pelos caras da classe dela, as pessoas – todas – a crucificavam por causa disso, mas ela ainda não conseguia controlar seus sentimentos, mesmo sabendo que talvez pudesse… Um dia.

Lourdinha era uma menina bonita. Não a mais bonita da classe, aliás, estava longe disso. Sempre foi meio desengonçada e nem um pouco vaidosa. Ser vaidosa para ela era passar um delineador ao redor dos olhos… E só. Mas ela era realmente bonita. Principalmente para quem a conhecia.

Seu problema foi terminar quando conheceu Lucas, seu primeiro namorado. Finalmente achara alguém que risse de suas piadas e que a fazia dormir, por que além de tudo ela tinha insônia. Lucas era bem legal, mas o namoro não chegou a durar um ano e de desfez. Ela ficou triste, mas logo se recuperou.

Lourdinha se curou do problema de se apaixonar por caras como os que se apaixonava no colégio porque Lucas era um desses e ela viu que esses não faziam seu tipo. Como lhe falavam no colégio, ela foi descobrir só passando por essa experiência ela mesma – melhor assim. Lourdinha sempre dizia.

Mas Lourdinha não era adolescente, cresceu e descobriu que ela conseguia controlar, pelo menos um pouco, seus sentimentos – como todas as mulheres, diga-se de passagem – e jurou que só ia sair com caras lindos, que matassem as outras meninas de inveja, e ela tinha potencial, mesmo. Já que com o tempo ela ficou mais vaidosa e bem mais segura de ti.

Ela arrasava corações, passava e fazia os meninos olharem para ela com desejo e as meninas com inveja. Ela gostava disso, mas não estava totalmente feliz com isso. Os meninos que diziam ser “apaixonados” por ela não se passavam por Don Juans espertinhos que tentavam competir entre si para ver quem ficava com a mais bonita do cursinho.

Ela não estava nem aí em relação à mulher, mas em relação à pessoa que ela era se sentia incomodada. Muito. Por que por mais que não estivesse apaixonada ou não quisesse namorar o cara, ela queria que eles fossem (ou continuassem) amigos. E isso era difícil acontecer, e em período pré-menstruais ela chegava a chorar por conta dessa indiferença inerte. E mesmo se ela forçasse uma aproximação, os caras achavam que ela estava apaixonada, e eles caiam fora, mesmo ela não estando apaixonada.

Então ela ficou na mesma, sem saber o que fazer, ela estava controlando seus sentimentos e não se apaixonava por ninguém fazia a tempo, e isso começava a ficar chato.

No dia em que ela decidiu abrir seu coração para se apaixonar, se apaixonou! Era um cara legal de verdade, um colega de estágio, se lembrava dele de algum lugar – Dos meus sonhos, deve ser. Pensava. Quando ela percebeu que ele não queria nada com ele, Lourdinha se lembrou da onde o conhecia… Parecia carma… Não tinha jeito… Parecia os meninos que ela era apaixonada no colegial.