(antes de ler esse post, leia o primeiro post da série)
Falar de Humberto é muito difícil. Impossível falar que o conheço bem, mesmo achando que sim. Nem sei se tenho muito a dizer sobre nossa relação de amizade e/ou amorosa – se é que existiu alguma amorosa–. Há dois anos nos conhecemos. Fomos apresentados por um amigo, sua namorada e sua irmã. Os três viviam falando que nós dois combinávamos, éramos parecidos, nós íamos nos dar bem etc. e tal. Um dia o amigo me passou o MSN e Orkut dele e começamos a conversar. Ele ia à mesma festa que eu no fim de semana. Estava realmente animada e aqueles meus amigos ficaram falando dele a semana toda. E o grande dia chegou e nos conhecemos. Ele estava lá. Lindo, solteiro, com os amigos, se divertindo e bêbado. Muito bêbado. Tanto que quase não se lembrava de ter nos conhecido no dia seguinte. Mas não faltaram oportunidades de estarmos juntos outras vezes, nós sempre nos encontrávamos e uma amizade sincera, de ambas as partes, foi surgindo. Como imaginei pelos relatos de meus amigos, éramos muito parecidos mesmo e nos dávamos muito bem. Mas uma coisa eles me avisaram: se eu quisesse ter algo a mais com ele, não poderia conhecer a ex-namorada dele, pois era excepcionalmente fantástica amiga essa Madalena, meiga, sincera, carinhosa, atenciosa. E ex-namorado de amiga, vocês sabem que é pra sempre namorado. Na semana em que eu conheci Humberto, conheci também Madalena. Ela veio como quem nada quer se apresentando, dizendo que era amiga de alguns amigos meus e que era ex de Humberto. Eu só continuei a conversa, e nada mais, não fiquei puxando papo. Talvez ela tenha percebido que eu estava o rondando e ela quis me deixar a par de todas as informações sobre o ex-relacionamento deles. Ela me contou a história toda deles. Sem eu pedir, é claro. Não a considerava ainda amiga, mas não podia deixar de entender o recado dela! Ela não queria que ele ficasse com ninguém nunca mais, ainda mais alguém conhecida, pois ainda o amava muito. Desde o início tínhamos muito em comum e eu comecei a sentir uma atração a mais por ele e pensando que ele também sentia, certa vez acabamos nos beijando em uma noite de aventuras pelo bairro, um beijo, o primeiro de muitos. Eu mesma contei para a Madalena. Ela ficou extremamente triste comigo e não falou comigo por umas duas semanas, só quando ela percebeu que não tinha nada a ver mesmo ela voltou aos poucos a falar comigo. Minha amizade e de Humberto não mudou nada depois de nosso beijo. Éramos cada vez mais amigos e mais ligados. Um começou a se preocupar e cuidar cada vez mais um do outro. Ele sempre vinha aqui em casa com nossos outros amigos para jogar vídeo game – eu sempre tive os jogos mais legais – e às vezes passávamos a noite inteira fazendo nada sentados na frente da casa dele conversando e ele bebendo álcool de quinta categoria e na fase que eu estava, qualquer coisa era adrenalina para mim. Batendo de frente com meus pais e ficando a noite toda fora de casa sabe-lá-Deus-com-quem como dizia minha mãe, trazendo esses mesmos sabe-lá-Deus para minha casa. Era aventura. O problema começou aí. Éramos amigos demais e tínhamos algo que não deixava nos separar nunca. O dia todo nos falávamos por MSN e telefone e mandávamos mensagens bonitinhas por Orkut – e diga-se de passagem, todas as meninas que eram apaixonadas por ele, morriam de inveja de mim por ter aqueles escritos na minha página de recados -. A gente não sabia no que ia dar uma amizade tão forte e tão instantânea. Em uma noite, quando várias pessoas foram dormir na minha casa, inclusive ele, nós nos beijamos de novo. Ninguém poderia saber, pois estavam todos dormindo. Ele me beijou com muita vontade, mas me disse que tinha medo que eu me apaixonasse, pois éramos “amigos coloridos” e queria continuar com isso. E eu jurei que não me apaixonaria. Não que ele não fosse apaixonável, mas eu preferia ter ele como amigo a não ter ele como nada, claro. Nossa vida era feita de altos e baixos e todos os baixos eram culpa minha, ele dizia. Às vezes ele parava de falar comigo de repente. Depois de uma semana me dizia “eu te desculpa por tal coisa” e eu ficava confusa porque não sabia do que ele estava falando ou às vezes considerava que quem tinha feito alguma coisa errada era ele e ele sempre falava que não. Dizia que quem estava errada era eu, mas ele me perdoava. Eu apenas ignorava. Eu estou acostumada a atrair pessoas loucas, mas louco como ele, era o primeiro. Nossa vida foi seguindo assim. Comecei a namorar outra pessoa e acabamos nos distanciando por causa disso, por acaso, esse meu namorado tinha um ciúme doentio por ele que não sabia da onde vinha. Eu sabia. Na semana que terminei esse namoro, depois de mais de um ano e meio, eu estava sensível e até triste. Para distrair saí com três amigos, inclusive ele. Estávamos no banco de trás do carro e os outros dois amigos na frente. Ele estava perto de mim, como antigamente. A gente já tinha conversado sobre o fim do namoro que talvez, muito talvez, tinha alguma chance de continuar. E ele sabia que eu não ia ficar com ninguém até ter certeza que tinha terminado definitivamente. Ele olhou para mim com cara de quem queria carinho. Foi chegando mais perto. Disse para eu fechar os olhos – o que eu não fiz – e veio até minha boca e tentou me beijar. Não deixei. Onde já se viu? Ele sabia que eu não queria ficar com ninguém até ter certeza do outro relacionamento. Ele tentou de novo. Pegou meu rosto e grudou com o dele, fechei minha boca com toda força. Sorri para ele e ele sorriu para mim. Os nossos outros dois amigos saíram do carro para deixar-nos a sós e disseram que o que acontecia no carro do João, ficava no carro do João (e estávamos no carro dele). Ele insistiu. Perguntou por que não. Eu expliquei. Tentei, pelo menos. Ele beijou meu pescoço. Minha orelha. Ele foi chegando mais perto e eu não estava conseguindo resistir. O Humberto iria sempre ser o Humberto, não tinha como mudar a atração que eu sentia por ele, mesmo se nos mantivessem afastados. Eu cedi. Ele me beijou forte e com vontade. Ficamos no beijamos por uns dez minutos corridos, sem parar. E eu pensei se já que tinha beijado mesmo, iria ficar pra valer com ele, o resto da noite. Se eu voltasse com o meu ex-namorado, de qualquer maneira já iria ter ficado com outro se eu desse mais um beijo ou não. Ou seja, seria “traição” de alguma forma se eu continuasse ou parasse naquele beijo de qualquer jeito. Mas ele não pensou assim... Humberto, não meu ex-namorado. Humberto me deu mais dois ou três pequenos beijos. Disse que eu continuava a mesma, que adorava meu beijo. E os outros meninos entraram no carro para continuarmos nosso passeio. Ele deitou no meu colo e quando eu fui beijá-lo, ele desviou. Não entendi nada. Pensei que fosse por causa dos meninos. Não era. Os meninos sabiam que o que acontecia no carro do João, ficava nele. Ninguém ia sair espalhando. Em certo ponto do passeio saímos nós dois apenas. Eu olhei pra ele. Ele fingia que eu não estava ali. Estava frio. Eu fui beijá-lo. Ele não deixou. Eu perguntei por quê. Ele disse que não queria mais. Eu perguntei por que ele era assim, daquele jeito. Respondeu que já tinha nascido assim e pediu desculpas. Beijou minha testa e pegou na minha mão para me levar pro carro. Mas eu disse antes de entrar que ele tinha me feito fazer algo que eu não queria, pois poderia magoar alguém que eu amava de verdade – no caso, meu ex-namorado se a gente voltasse – e iria ser isso. Só um beijo para ver se meu beijo continuava bom como antes. Ele disse que sim e entrou. A única conclusão que consegui chegar foi que ele só me queria como um desafio. Eu não queria ficar com ele por estar ainda enrolada com meu ex-namorado e se ele conseguisse ficar comigo era por que, talvez, ele fosse o todo-poderoso. Não que fosse bem assim, ele era o Humberto. O Humberto. O MEU Humberto. Depois de ter terminado definitivamente esse namoro, nós nos vimos mais uma vez. Acabamos nos beijando de novo e fiz o que ele fez comigo aquela vez. Só para checar que ele ainda beijava bem. Não que eu tenha DITO isso pra ele. Beijei uma, duas, três vezes depois o dispensei para ficar com os outros amigos que estavam junto também. Foi bom ter pagado na mesma moeda, mas por causa disso nunca mais nos falamos. E eu sinto saudade. Espero que daqui umas semanas ele venha me dizer que me perdoa por alguma coisa que eu (não) fiz e volte tudo ao normal.