Eu me lembro de quando eu tinha apenas um, dois e três dias de faculdade: ninguém podia sentar em mim, e eu, ansioso para ouvir as histórias, tive que agüentar firme, por que, depois de pronto, me colocaram uma placa dizendo “Tinta Fresca”. Três dias, para mim, demoraram um século. Não deviam fazer isso com algo tão sensível.
Existia uma garota, que sentava em mim para ler, e sempre que alguém perguntava o que ela estava lendo, respondia um nome diferente. Ela também colocava em um dos ouvidos algo pequeno que saía música, tinha outro igual para o outro ouvido, mas ela o deixava caído, rente ao fio do primeiro, e eu, que estava ali, acabava escutando. A que eu mais gosto é uma tal de Geração Coca Cola, que, aliás, já bebi bastante, quando derrubavam em mim.
A garota sentou aqui, todos os dias, por anos, sempre lendo e cada dia com um humor diferente. Uma vez, ela estava tão feliz que não leu, apenas sentou e esperou por um menino que sentou o seu lado, e a beijou. Admito que fiquei enciumado, mas só um pouco.
Aprendi muito com ela, que se tornou minha melhor amiga, um pouco sobre astrologia, música, revoluções, um tal de Che Guevara. Escuto de tudo nesse jardim, sobre novelas, política, mas o que mais gosto é de ouvir meninos se declararem para as meninas, no dia que o garoto beijou minha amiga, ele lhe disse muitas coisas lindas e românticas e a pediu em namoro.
Por muito tempo ela continuou sentada ali, junto com seu namorado, mas eles foram crescendo, e eu fui envelhecendo. Ouvi que eles iam sentir saudades de mim e do jardim, depois nunca mais os vi.
Várias pessoas foram me desgastando e hoje estou aqui, me reformaram me pintaram. Parece que eu não vou mais para faculdade, e sim para um asilo. Um colega me disse que se ouvem muito mais histórias legais lá! Estou muito ansioso, mas estão me colocando, de novo, a placa “Tinta Fresca”.