(atualização 17 de julho de 2015: ôba! mais uma etapa superada! pouco tempo depois de escrever esse texto, larguei os remédios!)
Em 15 de novembro de 2013 tatuei a palavra “gracias” no meu pulso esquerdo, bem no meu campo de visão. Como sou canhota, utilizo muito meu braço esquerdo e quase o tempo todo estou olhando para ele.
Há muitos anos, eu queria tatuar a palavra “grazie”, obrigada em italiano, em homenagem aos Pagliucas. Sempre senti vontade de agradecer ao Universo por ser uma moça verdadeiramente abençoada, não só por ter crescido com privilégios graças ao esforço e garra fora do comum dos meus pais, mas por ter nascido em uma família unida, superando as dificuldades e tristezas com muito amor, por ter amigos, por ter saúde, por ter escolhido aprender ao invés de ficar estagnada, enfim... por muitos motivos.
Decidi mudar o idioma depois de morar na Espanha, em 2010. Nunca fui pra Itália e não falo italiano. ‘Gracias’ me parece mais significativo. E eu acabei fazendo uma homenagem ao meu tempo de Madri, às minhas amigas amadas e às experiências incríveis que tive lá. Gracias, España! Te echo de menos!
A tatuagem não está nesse local a toa. Não é algo que quero mostrar para os outros, que apenas ilustra parte da minha personalidade. Quis fazê-la ali para me lembrar, constantemente, como tenho que agradecer.
Minha mãe sempre me perguntava, nas minhas crises de depressão: "o que te falta?" E eu respondia: "Nada! É só um vazio que sinto e me vem essa tristeza homérica". Mesmo assim, sempre fui grata, nunca deixei de demonstrar isso para quem eu amo.
Mas agradecer e se revoltar pelo "vazio'" não bastava, sentia que era errado. Procurei ajuda. Há mais um de ano, tomo dois remédios diários para combater esse vazio. Depois deles, não tive mais crises, apenas sensações – motivo para meu médico não me dar 'alta' – e sigo tomando-os para controlar minha bipolaridade.
E agradeço muito pela medicina me ajudar. Sem ela, não conseguiria estar em "equilíbrio químico" dentro de mim para conseguir atingir meu equilíbrio psicológico e espiritual. Coisas que só quem toma remédio e sente a diferença pode entender. Os demais, com todo respeito, não precisam perder tempo criticando aqueles que se medicam em busca de equilíbrio. Estamos melhores assim, cada um – e seu médico – sabe o que é melhor pra si.
Essa questão de equilíbrio tem tudo a ver com agradecimento. Não basta agradecer quem oferece ajuda, não basta reconhecer o gesto alheio. Precisamos encontrar a gratidão em cada momento da vida. Ser gratos pelo que nós mesmos fazemos por nós. Reconheça também a beleza no sol, na lua, na criança, no alimento, na planta, na saúde, na música... Seja grato por estar vivo: é um milagre!
Quando somos verdadeiramente gratos pelo que temos e somos, acabamos sendo automaticamente gratos aos que nos proporcionam ajuda – meu ponto é que não basta dizer “obrigada”. E a gratidão é uma das únicas formas de se conseguir ser realmente feliz. Ser grato é enxergar a vida mais bela, saber que iremos enfrentar dificuldades, mas é somente delas que vêm as conquistas. Quem disse que ia ser fácil? Sou grata por ser difícil. E por tantas outras coisas.