(antes de ler esse post, leia o primeiro post da série)
Ferdinando, ou Nando, era meu amigo fazia algum tempo já. Era três anos mais velho que eu e estava no último ano do colegial e só pensava em farra. Namorou uma amiga minha da oitava série até o meio do segundo ano e quando eles terminaram, ele decidiu “pegar geral”. O problema não era só esse. O problema era que todas as meninas com quem ele saía, ele tratava como brinquedos. Era um tremendo cachorro, mas comigo ele era tão legal! O melhor de tudo é que nós éramos muito amigos e nunca tínhamos tido nada. Eu achava errado o que ele fazia com as pobres meninas, mas não me agüentava de curiosidade e ria com as histórias que ele me contava todo entusiasmado. Um dia era de um beijo horrível. Outro era do assunto que não tinham. Outra história de um pum. Como moramos muito perto um do outro, sempre íamos e voltávamos juntos da escola, onde estudávamos desde pivetes. A gente conversava sobre tudo. Inclusive fui eu que tentei animá-lo depois do fim do namoro. Ele não falava disso com ninguém além de mim. Éramos do tipo irmãos. Depois que fez 18 anos e tirou a carta de motorista, passava pra me buscar todos os dias e me levava de volta da escola. Ele não conhecia minha família nem eu a dele. Não saíamos de final de semana por que todos os dias da semana já eram suficientes para enjoar, então éramos típicos amigos de escola. Em uma véspera de feriado estendido de sete de setembro, que caiu numa terça feira aquele ano, na ida da escola me convidou para ir à praia com ele no dia seguinte. Eu adorei a idéia, mas disse que meus pais não iam deixar. Ele insistiu disse que ia ser legal. Ia ele e mais três amigos e iam pintar o apartamento todinho para ficar mais habitável e me garantiu que não ia me fazer pintar também, que eu poderia ficar tomando o sol o dia inteiro. Seus amigos iriam à tarde do mesmo dia e nós dois iríamos no sábado bem cedinho por que ele trabalhava à tarde de sexta e ficaria cansado para dirigir. O convite feito. Eu comentei com minha melhor amiga e ela morreu de inveja! Olha como mulher é! Disse que ele me chamou porque estava com segundas intenções. Vai saber, né?! Os dois já tinham ficado, mas como ela era minha melhor amiga ele teve piedade dela e não a tratou tão mal quanto as outras. Quando ele estava chegando perto do meu prédio, na volta, fez o convite novamente e eu disse que precisava falar com minha mãe e depois com meu pai para ver se cada um liberava um dinheiro. Ele foi estacionando o carro. Eu comecei a ficar confusa. Ele disse que iria subir para falar com minha mãe. Ela não o conhecia, mas eu falava sempre dele. Ele disse que iria mostrar RG, CPF, número da carteira de motorista – e como era permissão, ele não poderia levar nenhuma multa – e foi saindo do carro e me mandando entrar com ele no prédio, se não o porteiro não ia deixá-lo entrar. O convidei para almoçar, então. Minha mãe estranhou uma pessoa diferente para almoçar e disse que eu falava muito dele, para me matar de vergonha. Mal começou o almoço e ele já fez o convite. Disse que dirigia devagar e que sempre descia a serra, logo não era tão inexperiente como parecia. Minha mãe resistiu um pouco, mas não tinha como resistir ao charme de Nando, até porque ele tinha treinado muito com todas as meninas da escola, ela cedeu logo antes de terminarmos o almoço. E ele teve que sair para ir trabalhar. Fiquei muito empolgada por que era a primeira vez que viajaria sem alguém da família. Liguei para minha melhor amiga contando e ela ficou super feliz por mim, perguntei se ela não queria ir também, mas ela disse que morre de vergonha de estar com ele, por tudo o que tinha acontecido – e fofoca à parte, não foi só beijinhos não. Arrumei minhas coisas e fui me depilar naquela tarde. À noite minha mãe me deu milhões de conselhos e alertas. De manhazinha ele passou aqui e fomos. Eu nunca tinha escutado nenhum CD inteiro dele por que nossas idas e vindas da escola eram rápidas, no máximo quatro músicas. O carro dele era confortável, mas não era muito novo. O ar condicionado não funcionava direito e tivemos que ir de janela aberta. O trânsito estava bom e eu estava morrendo de sono. Conversamos sobre várias coisas, ele perguntou por que a minha amiga não tinha ido – ela até que é gostosinha – ele disse. Fala sério, homens. Cochilei um pouco e voltávamos a conversar. Nós estávamos na metade do caminho quando o carro começou a parar. Seria falta de gasolina? Se fosse, eu pensei, ele seria muito estúpido. Mas antes de eu falar qualquer coisa ele já disse que não era falta de combustível. Estávamos no meio do nada e fazia um calor dos diabos. Paramos no acostamento e eu estava suando e ele muito preocupado. Abriu o capô do carro e fiquei olhando e eu parada no meio fio tomando um refrigerante que tínhamos colocado na caixa de isopor para tomar durante a viagem. Ele ligou para o pai dele e pegou os dados do seguro. Ficamos esperando muito tempo até que um carro de apoio chegasse. E enquanto isso começamos a conversar ainda mais. Ele fingindo que estava tudo bem e disfarçando o nervosismo e eu tentando passar que não estava morrendo de calor e com um pouco de medo. Conversamos sobre as expectativas do tempo para o fim de semana e eram boas. Aproveitei o sol das nove horas e tirei minha blusa que já estava com um biquíni discreto por baixo. Ele desviou os olhos. E como já estava de short, senti o sol batendo e ele não conseguindo tirar os olhos de mim. Até quando ficávamos em silêncio, seus olhos subiam nos meus ombros e voltavam para a barriga. Perguntou se doeu para fazer a minha tatuagem que tinha nas costas. Eu disse que não. Ri. Disse que era mentira, que tinha doído muito. Ele me mostrou uma que eu nunca tinha visto, entre o fim da barriga e a parte que as calças sempre cobrem. Ele era muito atraente mesmo. Agora começava a entender o que atraía tanto as meninas da escola. A tatuagem dele era bem estratégica e deixava algumas meninas loucas. Loucas para ver ou loucas por ter visto ou pior: ter tocado. Eu tentava disfarçar minhas opiniões, mas eu não estava conseguindo. Eu estava ficando bem atraída, mas, não tinha vontade de ficar com ele como as outras meninas tinham. Se fosse para ficar, tinha que ser especial, de alguma maneira. Na praia? Ele sempre levava as meninas pra praia, não ia ser a primeira vez. Ele também estava se atraindo por mim, eu tinha certeza pelos olhares que ele me lançava. Eu não sabia como falaríamos um para o outro de nosso interesse recíproco, mesmo nenhum de nós tendo qualquer dúvida. Estava ficando cansada de ficar parada na estrada quando o carro do mecânico chegou. Ele consertou o carro em dez minutos, alertando-nos que assim que chegássemos na cidade para procurar uma oficina para ter certeza do estado do veículo. Então seguimos viagem. Ele ficou feliz e pediu desculpas. Pra falar a verdade foi bem legal ficar lá na serra com ele, afinal, o lugar tinha uma vista linda, a companhia era ótima e ainda consegui pegar uma corzinha sem que meninos me olhassem – só ele. Continuamos conversando e nem percebemos o resto da viagem, por termos chegado muito rápido. A casa era bem legal, tinha até piscina num jardim. Tinha três quartos onde dois deles estavam ocupados pelo dono da casa e mais dois meninos. O outro quarto tinha só uma cama de casal e eu percebi que ia ficar para nós dois. Gelei. Lembrei do que minha amiga falou sobre segundas intenções. Colocamos nossas mochilas lá, almoçamos e fomos dar uma volta na cidade. Os três meninos, eu e ele. Nando era o mais bonito e mais legal de todos eles. Não que os outros não fossem bonitos nem legais, mas eles não tinham o mesmo charme. O único que era mais parecido comigo era um tal de Felipe e não conversamos muito. Ao voltar para a casa, os meninos foram pintar a casa e eu fiquei na piscina tomando sol. Ouvia algumas risadas e uns comentários do tipo “que amiga bonita você trouxe”. Nando saía sempre para me perguntar se eu queria alguma coisa para beber ou alguma outra coisa. À noite saímos para um bar bem movimentado da cidade e chegamos em casa de madrugada. Dois dos meninos estavam hiperbêbados e o resto de nós não tinha bebido nada. Domingo eu acordei cedinho, antes de todo mundo, para ir a praia, quando estava tomando café-da-manhã, Nando acordou e se ofereceu para fazer companhia. Fomos juntos, mesmo ele morrendo de sono. Ficamos na praia até a hora do almoço, comemos por lá mesmo em um restaurante e mais tarde, perto do meio da tarde, os outros meninos chegaram. Ficaram azarando algumas meninas que passavam, e Nando comigo só ria, não dizia nada. Até que passou uma das meninas mais bonitas da praia e um deles disse “ei, Nando, essa é pra você” ele riu, olhou para mim e disse “não, estou acompanhado”. Na verdade, eu morri de vergonha, mas entendi como se ele não quisesse me deixar sozinha com os amigos dele. Quando foi escurecendo, ficamos em um bar à beira mar. Voltei antes com Nando para a casa e os outros ficaram. Chegando em casa tomei banho e coloquei qualquer roupa, uma de ficar em casa. Quando apareci, ele me olhou fixamente e disse que eu estava linda. Fiquei envergonhada. Ele foi chegando perto. Ele estava lindo, tinha acabado de tomar banho, também. Estava cheiroso e se viesse, eu não ia resistir. Ele estava chegando mais perto. Não ia me segurar. Foi então que ele segurou minha mão e me puxou. Eu disse “não sou suas menininhas” ele disse “eu sei” e me beijou. Fazia um tempo que ninguém me beijava daquele jeito. Fomos para o sofá e ficamos por ali um bom tempo nos beijando e conversando. Comecei a ficar com sono, ele também. Tínhamos ficado na praia o dia inteiro e estávamos cansados. Fomos para o quarto. Eu fiquei com medo de ele tentar algo a mais – e eu nunca tinha feito –, mas ele perguntou se eu me importava de ele dormir ainda comigo, agora que estávamos ficando. Eu disse que era claro que não me importava e que não tinha nada a ver. Dormimos abraçados depois de conversar e nos beijar um pouco mais. Na segunda feira acordei com um trovão, a chuva caindo e os meninos falando alto. Ainda era de manhã e quando abri os olhos e me virei ele estava parado me olhando do meu lado. Disse que eu era linda. Beijou-me e fomos tomar café. O dia, por estar chuvoso, estava desanimador e por isso ficamos em casa jogando baralho e eu aprendi vários jogos novos, como pôquer. Ficamos assim, brincando e namorando, o dia todo e na terça depois do almoço voltamos para casa. Quando ele me deixou em casa, perguntou o que eu tinha achado e eu disse que tinha sido bem legal. Ele perguntou de nós. Eu respondi que não sabia de nada, que era melhor deixar rolar. Ficamos mais umas semanas e depois fomos nos afastamos como “namorados” e voltando a ser só amigos, e até hoje somos bem amigos. É claro que todas as meninas ficaram com inveja de mim porque tinha prendido o cara que todas queriam. Era legal ver as meninas morrendo de vontade de ser eu e os caras quererem ser ele – não por causa de mim, mas por ele ser ELE – só que não estava feliz ficando com ele. Aprendi que é legal invejada, mas não vale a pena se você não está feliz.