Só que trabalhando no centro, fica difícil me alimentar bem, quer dizer, pra falar a verdade, me alimentar de qualquer maneira se não for na praça de alimentação do shopping, então desde que fui contratado, almoço no mesmo lugar.
Eu nunca fui muito fã de praça de alimentação de shoppings, das comidas e do clima de fast-foods, mas na verdade eu não tinha como resistir já que eu sou muito fresco para comida e a empresa me dá desconto nos meus dois restaurantes preferidos. Fica até chato passar fome.
O que peca nesse shopping são essas mesas de quatro em quatro pessoas, se duas estão sentadas, os outros lugares ficam ocupados por tabela, mas às vezes que não tem lugares vazios, eu sento mesmo, não tô nem aí. Acho que eles deviam fazer uma campanha de socialização, almoçar sozinho é chato.
Quase todos os dias eu via uma garota. Ela sempre estava bem vestida. Vira e mexe estava no Subway, o restaurante teoricamente fast, e só comia vegetarianos. Estava sempre de fone de ouvido e balançava a cabeça pra lá e pra cá. E tinha aliança no dedo direito. Claro que reparei, ela era muito linda.
Ela entrava na fila. Fazia o pedido. Batucava no balcão. Pegava a bandeja e sentava sozinha numa das mesas vazias. Ela sempre prendia o cabelo pra almoçar. Eu sempre ficava na tentação de ir falar com ela e de ocupar o lugar na sua frente. Pensava nas desculpas como “não quero ocupar uma mesa a mais só para eu sentar…”, mas eu sou covarde demais pra isso. E eu nunca fui falar com ela.
Olhava pra ela todos os dias, acabei mudando meus horários por causa do horário dela. Sabia que ela ia todo dia, mais ou menos, no mesmo horário e isso era bom. Tinha vezes que não a via e ficava chateado. Eu precisava falar com ela. Eu ouvi uma vez ela falando ao telefone “Fulana, aqui é a Lu”. Lu? Luana? Luiza? Ludmila? Lucia? Luciana? Qual seria seu nome? Lu…
Ela sempre puxa um assunto ou outro com os atendentes. Ela é muito simpática. Ela sempre fala com todo mundo dos lados. Ela já devia ter falado comigo, mas o problema é que eu me perco olhando pra ela. Parecia meio bobo, ficava viajando nos cabelos cacheados dela. Fazer o que? Ela era muito linda.
Teve um dia que me disse: “vai levar só isso, hoje?”, e eu respondi: “depois eu pego mais!” enrubesci. Mas que coisa idiota de se responder: depois eu pego mais! Ela perguntou se eu ia almoçar sozinho de novo. Eu balancei a cabeça afirmativamente. Fui sentando numa mesa vazia. Ela se convidou pra se sentar comigo. Não sabia o que dizer a não ser que sim, claro, podia sentar.
Ela não prendeu o cabelo nesse dia. Ela me pediu a pimenta, mas eu estava mastigando e nem ouvi falando, só fui perceber que ela tinha mesmo pedido a pimenta porque ela esticou o braço e pegou ela mesmo, pedindo licença. Continuava vermelho. Ela ficou quieta. Eu também. Mastigamos e terminamos quase ao mesmo tempo.
- Marcos, a propósito. – Falei limpando minha boca com o guardanapo.
- Louise. Lou… – Ficou me olhando.
- Lu… – sorri esperando que nada tivesse sobrando entre os dentes.
- É, mas escreve LOUise, na verdade. – disse destacando o sotaque.
- Lou… – Sorrimos.
- Obrigada pela companhia, é muito chato almoçar sozinha.
- É eu sei. E seu namorado – apontei pra aliança dela – porque não vem almoçar com você às vezes?
- Nem tenho namorado, é uma aliança de amizade, coisa de menina.
… E foi assim, gente! Para quem nunca tinha ouvido essa história, ou não se cansa de ouvir como eu não canso de contar… Desde esse dia eu sou completamente apaixonado por essa mulher que acabou de se casar comigo. Pode beijar a noiva?