O reconheci em uma padaria, sentado no balcão, suas pernas estavam cruzadas e lia o jornal do dia. Esperava alguma coisa bem quente com chantilly esfriar e alguma coisa bem frita sair da chapa do garçom, parecia preocupado com o horário, mas discretamente. Quem diria que, depois de tantos anos, eu o reconheceria!

Ele estava diferente, com barba, terno e gravata, me lembrei de quando ele dizia que quando se tornasse um adulto de verdade, ele ia ser “largadão”, só iria fazer o que tivesse vontade, não iria ser empregado de ninguém e nunca iria usar uma gravata por obrigação, e ele estava lá, diferente do que eu imaginei que seria.

Nós nos conhecemos na quinta série, nossa escola era tradicional, nossos uniformes nos incomodavam, eram muito formais, calça e camisa social, saia e camisa social, e era por isso que ele dizia sobre gravata por obrigação.

Isso faz muitos anos, quando nós éramos apaixonados, mas o que adianta ficar pensando nisso? Eram tempos mágicos, tudo parecia que ia durar para sempre e de repente a amizade acabou e nosso amor se confundiu com outros sentimentos.

Ao ficar parada ali pensando nessas coisas, entre a prateleira de biscoitos e a geladeira, olhando para ele, percebi tarde que ele se virou e quase me viu, mas logo abaixei para ele não me reconhecer, continuei pensando que quando estávamos juntos ele me fazia feliz e eu nunca entendi o que aconteceu para o nosso amor acabar.

Saí da padaria e comprei um jornal para passar o tempo enquanto ele não saía de lá, não era a primeira vez que eu mudava minha rotina, minha vida por causa dele, já havia feito muita coisa diferente do que eu sempre fazia com ele, mas é claro, quando eu era uma menina inconseqüente com um namorado perfeito.

Enquanto eu lia que o Corinthians estava ganhando todos os jogos e se recuperando, e é claro, eu ficava feliz, ele saiu rapidamente e pedindo um táxi, nem me viu, eu me arrependi um pouco quando ele saiu naquele táxi, mas depois eu pensei que poderia ser melhor assim.

Fazia anos que eu não o via, mas, nossa! Como eu o amei! Por que será que o amor acaba assim? O carinho some de repente? E a amizade termina? Poderíamos ter ficado juntos pra sempre felizes. Uma pena que eu não tive coragem de ter falado com ele, mas quem sabe não o encontro de novo qualquer dia desses? Acho que ainda o amo, mas que amor é esse?