Eu gostava de baixar a cabeça e logo depois vir alguém tocar em mim, em carícias de consolo, sem querer saber da minha vida, só dizendo que tudo ia melhorar, e eu sinto falta. Ah! se sinto. E como sinto! Falta de quando os professores me conheciam como a carente/chorona/mimada, mas uma boa menina. Quando meus amigos me achavam sensível demais para o mundo real. E quando meus pais diziam que a culpa de tudo era absoluta e completamente minha!

Era uma época onde chorar podia. Não podia era se apaixonar pelo cara mais bonito da escola ou odiar a menina mais popular - e metida - da classe! Hoje eu posso... Posso me apaixonar pelo cara mais bonito da cidade, odiar a menina mais nojenta da faculdade. O que não pode é chorar, a situação piora cem por cento se alguém vê você chorar. Sorte minha que já chorei tudo o que eu tive que chorar, ou até mais, em tempos de escola, nos tempos que se chorasse podia sair da classe e beber uma água. Se brigasse com alguém, tinha um adulto para orientar quem estava certo e quem estava errada naquilo tudo - mesmo eu sendo muitas vezes injustiçada, mais motivos pra chorar.

Matar aula era um pecado. Melhor seria chorar as cinco aulas seguidas por qualquer motivo que a gente não quisesse falar pra ninguém, nem pra melhor amiga de todas, do que ficar em casa chorando no colo da mamãe. Hoje não. Não se pode chorar em lugar nenhum. Nem em casa, nem fora dela. Nem deitada na sua cama. A gente tem que ser bem forte! Da ultima vez que eu matei aula, no terceiro colegial, fiquei na cama até a hora de sair de casa. Cinco minutos depois que minha carona foi embora, minha mãe veio, e me disse que tinha certeza que eu não tinha ido pra escola, brigou comigo claro, e perguntou: "Por que, Gabi, o que te falta?" Nada. E tudo nunca me faltou. Nada me falta, tudo me sobra. Talvez o problema seja eu, a riquinha mimada metida a comunista, que não sabe o que é ter que trabalhar de segunda a segunda, e acha que não jogando papel no chão e doando roupa já é a defensora dos pobres e oprimidos.

Mas, que dor teria eu em ser alguém que eu não sou? Conviver só com as coisas materiais que eu conquistei, sem trabalho nenhum e deixando meus ideais pra lá. Perderia o cara perfeito que me conheceu meio de esquerda e com estilinho "tô nem aí pra moda" (mais conhecida como moda de c* é ro**), perderia os olhares indignados com as roupas estranhas que tenho usado, pra que viver sem chocar? Não se enxerga brilho a luz do dia, nem buraco no escuro.

Estar camuflada, me escondendo de mim mesma, não me parece a melhor saída. Eu mesmo, sem máscara alguma vejo alguém sensível demais apaixonada por um mundo perfeito utópico sem armas de fogo e almôndegas. Sou patética quando penso em mudar o grande mundo ao meu redor. Gostaria de mudar o meu pequeno mundo ao redor, simplesmente.

Queria ser menos preguiçosa, mais confiante, menos emotiva, mais madura, menos saudosa. Ser menos essa criança chorona e não profissional que existe dentro de um eu totalmente fraco, somente por pensar em ser fraco... ou por ter perdido as forças pra lutar quando percebeu que tinha muitos eus dentro de mim mesma, e que cada um queria uma coisa.

Coloquei numa balança o eu e o não eu que eu poderia inventar. Acho que a pior parte de ser eu mesma é não conseguir ser qualquer um que eu queira ser.