Ficar dormindo talvez fosse a parte mais interessante da coisa toda, não precisar levantar cedo, só lá pelas onze da manhã, quando a fome bate, então, com a barriga roncando, um leque de opções dentro do armário da cozinha.
Desde a escola, nunca precisei que ninguém me acordasse de manhã, diferente acho, de todos os meus irmãos. Eu acordava, tomava banho, ficava meia hora na frente do espelho tentando me arrumar – para no fim ficar aquela belezinha! -, tomava café da manhã, esperava dá a hora certa, chamava o elevador e ia pra escola a pé, já que ela ficava dois quarteirões pra baixo.
Era uma rotina simples, eu não tinha grandes responsabilidades, mas o pior que eu até tinha, apenas uma, e não a cumpria direito. Eu só estudava (e em escola particular!), e como apenas fazia isso, era de se esperar que eu fosse uma das melhores na minha classe, mas não era, nunca fui, em nenhum fundamental nem médio. A única verdadeira responsabilidade que eu cumpria era a dos horários.
Ah, mas fala sério! Eu não gostava de estudar, aliás, ninguém gosta, né?! Mas eu era um caso excepcional, não simplesmente não gostava. Eu odiava, mesmo história que eu gosto, não passava sem recuperação! Até que tinha que fazer a oitava série de novo (por causa da matemática!), por mera preguiça e falta de vontade de crescer na vida.
Desculpa-me, mas não sou uma pessoa comum, como as outras. Eu reprovei aquele ano por que eu escolhi o fazer. Não por que eu não prestava atenção na aula, ou ficava conversando, ou fazia bagunça, ou os professores me odiavam, não! Eu era até quietinha/comportada/mimadinha pelos professores, claro sem prestar atenção. Era o caso bizarro da classe. “Como pode? Uma menina tão aplicada.” Aplicada o escambal, , era mais preguiçosa que sei-lá-o-quê!
Acho que hoje é a mesma coisa, mas eu estou um pouco camuflada com a idade, com as responsabilidades que algumas pessoas da minha idade não tem, mas que mesmo assim não são muitas. Estudando e trabalhando, acabo por fim, não fazendo nenhuma das duas coisas certas . Ah, não tenho culpa. Ainda sou preguiçosa. Mas eu queria mudar. Queria muito, mas vou mudar só um pouquinho.
Ficar em casa, o dia inteiro, servindo de estorvo pras pessoas não faz meu tipo, entende? O que eu queria mesmo era mudar o mundo, fazer dele um lugar melhor pra se viver. Mas isso tudo é muita mentira. Eu mesma não faço nada pra acontecer. Eu nem separo o lixo reciclável aqui em casa (o que é uma pena, já vou dar um jeito nisso.)
Descobri que a gente tem mesmo é que fazer a nossa parte, sem ter que dar satisfação pros outros de nossos atos. Fazer com que sua casa, seu trabalho seja um pouco melhor do que foi ontem. Dar valor a tudo. Desde as coisas materiais até aos nossos relacionamentos, se não acabamos por perde-los.
Quanto à responsabilidade, fica difícil eu dizer publicamente que eu sou preguiçosa, mesmo já tendo dito. Acho que acordar cedo, ter um horário, já é um começo pra cumprir a rotina direito. Tudo tem que ter um começo, não é? Acho que o começo pode ser até pequeno, mas ninguém tem que saber como você faz seu dia pra ele se tornar importante para os outros. Por isso acho que dormir pode até ser a melhor parte, mas acordar cedo é só para as pessoas mais importante. E eu realmente sou alguém importante. Mesmo sendo beeeem preguiçosa!