A data provável do parto era dia primeiro de maio, quando minha gravidez completaria 40 semanas. Por alguma razão, Ângelo Gabriel veio quase 20 dias antes, embora já não fosse prematuro, por estar com 37 semanas e 2 dias. Não veio de parto normal, como eu queria, mas veio completamente saudável - era só isso que eu desejada do fundo do meu coração.
Há 19 dias eu tive meu bebê. Minha vida mudou. O primeiro clichê real: nasci de novo.
Últimos dias de gravidezDia 07 de abril aconteceu o chá-rau, em Santos, em que tive a última experiência fora de uma “internação” (em fases: casa, hospital, maternidade, casa, hospital, casa), com amigos. Comi muito, conversei muito, fiquei muito de pé. Cansei bastante. Dormi em Santos, domingo voltei pra minha casa, exausta, porém muito feliz.
Domingo, pouco antes das 4h da manhã, comecei a sentir fortes dores no estômago, como as dores que sentia no carnaval - diagnóstico na ocasião: pedras na vesícula. A dor aumentou bruscamente e vomitei. Dor diminuiu. Partiu pronto socorro. Liguei pra família e pro meu médico. 4h30 da manhã estava chegando no pronto atendimento.
Medicada, exames feitos: tudo bem com o Ângelo, ele não estava com sinais que iria nascer. Tudo bem comigo, minha vesícula não estava inflamada. Fui liberada, direto pra casa dos meus pais. Segunda feira em repouso, ainda muito debilitada. Consulta do pré natal, mal sabia que seria a última. Terça feira, ainda dores e enjoos, mais uma vez pro pronto socorro, sem nenhuma alteração nos exames da vesícula. Quarta feira, seguiam os sintomas - dores e enjoos. Meu médico preferiu me internar pra tentar resolver a questão da vesícula, sem cirurgia. Afinal, Ângelo ainda estava dentro de mim, mas queríamos que ele ficasse por mais umas 2 semanas.
Na hora da internação, dia 11, os exames do bebê estavam ótimos. Ultrassom e Cardiotocografia (monitoração fetal e uterina na gravidez) estavam normais. A médica detectou contrações, porém ao fazer o exame de toque, não havia dilatação - então ela disse que eram contrações de treinamento (super normais naquela altura da gravidez). Os exames da vesícula continuavam sem sinalizar inflamação ou infecção.
Aconteceu de repente, do nada
Porém, quinta feira, dia 12 tudo mudou. De manhã, no exame de cardiotoco houve uma pequena alteração que o meu obstetra resolveu investigar mais de perto. Refez o exame depois de algumas horas, durante mais tempo que o normal. Sua face estava apreensiva, pediu opinião pra outro médico e os dois disseram que a alteração era de certa forma normal, porém dependia de outros exames para realmente constatar a normalidade.
Após o exame de cardiotoco, meu médico pediu um ultrassom obstétrico: se estivesse tudo bem, vida normal - ainda resolveríamos a questão da vesícula por alguns dias, e o Ângelo chegaria mais pra frente. Se houvesse alteração no ultrassom, uma cesária de emergência deveria ser feita. Porém, ele disse que estava indo embora tranquilo, e que qualquer coisa ele voltava.
Fui para o exame de ultrassom e a médica foi clara: há pouco líquido na bolsa.
“Você perdeu líquido?”, perguntou a médica. “Não que eu tenha percebido”, respondi apreensiva. “Ah sim... bom, está com pouco líquido. Vou avisar seu médico. Bom parto!!!”
“Bom parto???”, BOM PARTO??? Pois é, a hora tinha chegado. De um dia pro outro, sem ao menos eu perceber qualquer perda de líquido, meu filho iria nascer.
Cheguei no quarto, abracei minha mãe, quase chorando, dei a notícia: “a médica disse que o tem pouco líquido na bolsa! Era a alteração que o meu médico disse que não poderia ter”.
Em alguns minutos, o meu obstetra me liga: “A médica que fez o ultrassom me ligou. Realmente há alteração. Vamos operar. Você precisa ficar de jejum a partir de agora. Estou voltando pro hospital”.
Minha nossa! Que emoção!! Alegria e, ao mesmo tempo, medo!!! Eu não queria cesária, eu não estava preparada pra ser mãe naquele dia 12 de abril, estava ainda me preparando.
“Ângelo vai nascer. Enviem energia positiva” - mensagem pra minha família, para minhas amigas, pro pai do Ângelo, pra família e amigos do pai do Ângelo, pra ele ser avisado.
Em poucos minutos, um número enorme de enfermeiros e auxiliares entraram no meu quarto e mudaram minha vida. Ainda por cima, eu estava preocupada com meu gato, que tinha ficado sozinho em casa desde segunda feira, quando fui pra casa dos meus pais.
Um enorme medo tomou conta de mim. Enquanto estavam todos felizes, eu estava surtando, tendo a maior emoção que já tive em toda minha vida. Eu me tornaria mãe em breve. Minha mãe tinha saído pra dar comida pro meu gato e pegar minhas coisas, não imaginávamos que a cesária ia ter que ser tão rápida, mas quando soubemos que sim, que não ia demorar nada, pedi que minha mãe voltasse. Quando ela entrou no quarto, só disse: GRAÇAS A DEUS!!!!!
Quando o meu médico apareceu novamente, eu perguntei: “doutor, não tem como a gente induzir o parto? Tem mesmo que ser cesária?”. Ele disse que não tinha como ser parto normal, que o bebê poderia estar passando por algum tipo de sofrimento, e não poderíamos adiar isso.
Concordo! Concordo plenamente, vamos resolver! Meu filho em primeiro lugar, se ele pode vir a sofrer, não posso deixar que isso aconteça.
O parto
Em 1 hora e meia eu estava na sala de cirurgia. Antes mesmo de tomar anestesia, já estava me sentindo fora de mim. As coisas aconteceram tão rápidas que eu nem me lembro bem. Tudo me parecia muito confuso, meu bebê em breve estaria nos meus braços, meu maior sonho se tornaria realidade em poucos instantes. A gravidez foi muito gostosa, mas o que estaria pra acontecer seria muito mais. Um bebê gerado por mim chegaria ao mundo em pouco tempo!
Minha mãe entrou na sala de cirurgia logo depois que eu tomei anestesia, e já sentia os médicos mexendo no meu corpo. Ela chegou, sentou pertinho de mim, me viu chorar, me viu rezar, pegou na minha mão, falou coisas que às vezes eu conseguia ouvir, às vezes não, devido ao barulho dos equipamentos da sala. Conversava comigo, me acalmava. Eu emanava o mantra OM MANI PADMA HUM, que é o mantra da compaixão.
Estava agoniada sem saber o que estava acontecendo. Perguntava a ela, ela dizia que eles estavam me abrindo. Um dos médicos disse “estamos quase chegando na casinha dele”. Ouvi meu médico chamando minha mãe, e em seguida ouvi pela primeira vez o chorinho dele. Era meu Ângelo. Ele tinha acabado de nascer as 18h46 do dia 12 de abril.
Meu bebê, meu pequeno, meu sonho, minha vida, meu amor, minha jóia. Meu mundo, meu tudo!!!
Minha mãe se afastou de mim pra olhar ele de pertinho, acompanhando todos os movimentos após nascimento. Em alguns instantes, ela estava com ele nos braços, ao meu lado.
Ficamos nós três, naquele momento esquisito, porém único. Ela me disse que ele estava chorando e só se acalmou quando me ouviu. Dei meu primeiro beijinho nele. Cantamos. Oramos juntos. Choramos.
Alguns muitos minutos depois, a cirurgia acabou. Fizemos o primeiro estímulo da mamada. Pele a pele. Meu bebê nos meus braços. Em seguida, fui pra sala de recuperação e ele pro berçário.
Nesse momento, me senti traída pelo hospital, porque me disseram que ele ficaria comigo o tempo todo após o parto, se eu desejasse. Ele nasceu perfeito, com Apgar 9/10, mas mesmo assim ficamos 3 hora separados - de acordo com a explicação oficial, foi devido ao tempo de nascimento (37 semanas e 2 dias).
Fiquei lá na sala de recuperação por 3 horas, enquanto me coçava inteira (reação da morfina), não conseguia sentir minhas pernas, senti um vazio enorme e uma grande angústia por não estar com meu Ângelo.
Mas eu estava feliz, ao mesmo tempo. Meu filho tinha nascido e eu já era mãe. Eu daria de mamar, educaria, protegeria, daria meu mundo para um bebê.
Subi para o quarto e todas as coisas dele já estavam lá. Naquela mesma semana, eu tinha terminado de arrumar, com minha mãe, as malas da maternidade dele e minha. Não faltava praticamente nada. Estava tudo lá - incluindo lembrancinhas, enfeite da porta, enfeites do quarto, tudo.
Entraram no quarto meus irmãos, cunhadas e meus pais. Estavam todos felizes por mim. Me abraçaram, me beijaram. Me parabenizaram. Já tinham acompanhado o Ângelo no berçário, já tinham visto ele. Foi um momento muito especial. Estávamos ali reunidos, as pessoas que sempre estiveram pertinho de mim, a vida toda. Meu irmão mais novo, meu irmão gêmeo, minha irmã mais velha (e não puderam estar lá 2 irmãs e 1 irmão), com quem nasci, cresci, briguei, perdoei, chorei, sorri, me reconciliei... Meu pai, meu maior professor. E em seguida chegou minha mãe, que é minha parceira em tudo e mais um pouco. Ela estava acompanhando de pertinho tudo que faziam com ele.
E chegou o Ângelo, pela primeira vez após o parto, e foi recebido com todo amor do mundo por essa família tão especial.
Primeiros dias
O parto não foi como eu esperava. Não estava esperando me tornar mãe na primeira quinzena de abril. Não queria cesária. Porém, por alguma razão, assim aconteceu. Logo no primeiro dia comecei a amamentar, comecei a observar todos os sinais que ele emitia pra mim. Naquela noite, não consegui dormir. Minha mãe falou que ela olharia ele pra eu dormir, mas eu não consegui pregar o olho. Cada som que ele fazia, me despertava e me preocupava. Virei a noite, e assim foi nas noites seguintes.
Tive alta domingo na hora do almoço. Pela manhã, surtei. A enfermeira veio me dar remédio pra dor, e eu, sentava na cadeira de amamentação, com os olhos cheios de lágrimas, perguntei: “e remédio pra desespero? Vocês têm?” A enfermeira, toda bonitinha, se abaixou, tocou no meu joelho e disse que não precisava chorar, que tudo estava bem, que eu ia conseguir. Disse que eu estava indo super bem, que eu ia me adaptar. Que era normal ter medo, mas que eu tinha uma rede de apoio que estava firme, que eu ia conseguir, que eu já estava sendo uma ótima mãe.
Aquilo me emocionou, mas não me convenceu totalmente. Minha mãe, minha cunhada e o pai do Ângelo também procuraram me passar a mesma energia positiva. Foi só chegando em casa, ao passar dos dias, vivendo cada momento de forma única, permanecendo no Agora, que consegui superar cada obstáculo que tive que enfrentar.
Aliás, essa foi uma das primeiras prescrições médicas logo que eu engravidei: viver o agora. Pensar no passo seguinte, no Agora.
Em alguns dias já estava trocando as fraldas, fazendo a higiene do umbigo, dando banho, dando de mamar de forma tranquila.
Quando ele estava com 9 dias, mais um susto! Minha vesícula inflamou, tive fortes dores e fui para o hospital. Tive que ficar internada para operar. Mais uma cirurgia em 10 dias. Ângelo ficou em casa com minha mãe, o pai e meus outros familiares. Tomou fórmula na mamadeira por um dia e meio. Meu maior medo era ele desmamar aos 11 dias. Mas não! Quando cheguei de volta dessa segunda cirurgia, ele estava com saudades e pegou rapidamente meu peito de novo. Pedi pra esconderem a fórmula e a mamadeira, não queria nem ver. Foi só um dia e meio, acabou sendo uma cirurgia muito dolorosa (porque estava inflamada), mas rápida. Senti muitas dores no primeiro dia, mas elas foram melhorando a cada momento. Já se passou uma semana da alta e estou cada dia melhor.
Dores, sangramento, medos, desafios, queda de hormônios...
E aqui estamos, nos superando a cada momento. Com apoio dos meus familiares, dividindo as olheiras com minha mãe, estamos superando e desfrutando cada momento dessa nova vida.
E era pra essa aventura ter começado apenas hoje, primeiro de maio. Fico feliz e grata por ter adiantado e tido esses quase 20 dias “a mais” de convivência com esse nosso ser de luz, Ângelo Gabriel.
Sou grata !!!
Obs.: AH! E ficou tudo bem com meu gato Viky! Fizemos um belo esquema pra ele não ficar sozinho por tanto tempo, ser sempre alimentado e receber carinho até eu voltar pra casa!