No fim de semana, saí com uma amiga para um bar dançante e ela me disse que é lésbica. Eu nunca tinha percebido, ela é muito discreta. Não soube o que dizer na hora, mas não por ter algum preconceito, por que era a mesma coisa se ela tivesse contato que tinha ficado com o cara mais nerd que estudou com a gente no colégio. Uma coisa inesperada, mas normal. Só não sabia o que dizer.

                Eu fiquei em silêncio por um momento, mas não pensava nada demais, mas ela ficava me questionando sobre meus pensamentos e se não ia mudar nada entre nós e é claro que não vai. O que eu sinto por ela é único e nós somos amigas há dez anos, ela é uma das únicas para quem eu corro quando eu preciso e vice versa.

                Ela disse que estava se sentindo mal por ter me contado, que eu não precisava saber. Eu disse que se ela não me contasse, sim, ia ser uma falta gravíssima para nossa amizade, então ela sorriu, tomando mais um drink e olhando a pista. Eu perguntei pra ela porque ela me contou aquilo bem naquele dia e ela me contou que estava namorando. Sinceramente, eu achei a coisa mais fofa que uma amiga pode ter feito comigo. Sabe, provavelmente sou a primeira das amigas a saber sobre sua homossexualidade e sobre a tal namorada.

               Ela estava muito incomodada com aquilo e eu por ela estar incomodada. Não sabia o que fazer para ela saber que estava tudo bem. A noite foi ficando mais agitada e o bar mais cheio. Enquanto dançávamos, uns meninos vieram conversar com a gente, e ela conseguiu se soltar mais com eles. Eu estava achando bonito o jeito que ela dançava e conversava com os garotos, me tirou a imagem, o pouco que restava, de lésbicas masculinizadas por ser totalmente feminina. Eu não quis parecer refletindo em um momento como aquele, com pessoas novas ao nosso redor, sendo que ela acabara de me contar seu maior segredo, eu não sei o que podia parecer... Que eu a estava julgando ou sei lá o que. Então tentei deixar fluir nossa noite como se nada tivesse acontecido.

                Quando ficamos sozinhas na nossa mesa de novo, toquei no assunto, só por curiosidade. Perguntei se ela e a namorada já tinham transado e como era. Ela ficou vermelha ao dizer que sim e me contou pouquíssimas coisas. Perguntei que tipo de mulher a atraía e quando ela tinha descoberto isso e quem mais sabia. Não me respondeu a primeira pergunta e disse que eu era a primeira das amigas, mas os dois irmãos e uma irmã dela já sabiam por que ela contou. E que tinha descoberto quando nós saíamos e ficávamos paquerando os meninos e ela não sentia nada de mais, mas olhava para uma ou outra mulher e sentia alguma coisa. Senti um pouco de culpa e pedi desculpas para ela por ter pressionado nossa adolescência inteira para ela ficar os caras, ela começou a gargalhar e disse que não tinha nada a ver.

                A noite foi passando e conversamos sobre muitas outras coisas, nos começos de anos as pessoas somem um pouco até tudo voltar ao normal, por causa das férias, e nós tínhamos uma férias inteira para contar para outra. Eu conheci um menino lá no bar e acabei ficando com ele e ela ficou – conversando e bebendo – com o amigo dele que queria beijá-la. Dançamos, conversamos e bebemos mais até acabar o pique.

                No fim da noite, a levei para casa, mas estava bêbada o bastante para começar a chorar antes de sair do carro. Lamentando ter contato toda a verdade, mas afirmando que só lamentava porque estava bêbada por que ela disse que confia muito em mim, chorava e ria ao mesmo tempo. Nós já tínhamos passado por isso diversas vezes e emoções a flor da pele era nossa sensação preferida. Ela me pediu para não contar para ninguém – como se precisasse pedir – e me abraçou, disse que me amava como sempre amou e que eu era uma grande amiga, mas estava com medo de nossa amizade acabar por ter me contado a verdade.

                Eu não sei onde eu estava com a cabeça, mas a única coisa que eu pensei quando ela me disse que estava com medo de tudo mudar, foi dar um beijo nela. Eu nunca tive dúvidas sobre minha opção sexual, mas foi a única coisa que passou pela minha cabeça, como amiga. Eu a afastei do abraço e segurei a cabeça dela com as mãos, assim como os meninos fazem comigo, aproximei meus lábios da boca dela e ela perguntou o que eu estava fazendo, disse que era nosso pacto de amizade para sempre e a beijei. Foi o meu primeiro e não ia ter como eu esquecê-la jamais.