"Saia da superfície e mergulhe em você" - um pensamento que estimula o autoconhecimento.

Ela poderia ser adaptada, para este texto, como "desligue o wifi e conecte-se com seu eu superior" ou "saia do wifi e mergulhe em você".

Sim, vim falar da relação que eu vejo entre autoconhecimento/ espiritualidade com "bitolação digital", termo que pensei pra quem fica o tempo todo conectadx às redes sociais a ponto de alguém do lado reclamar.

Eu já fui um pouco bitolada, mas rapidamente percebi que eu perdia uma boa parte da vida real e passei a ser mais consciente do uso da tecnologia. Comecei deixando de ficar bitolada em chats instantâneos (face, whats, bbm na época). Depois dei uma boa diminuída no uso nas redes sociais.

[caption id=“attachment_3844” align=“aligncenter” width=“525”]2016-02-11 07.58.27 Semana sem celular junho/2012. Ninguém morreu por causa disso e nem meu TCC (veja tag) foi ameaçado - total controle e responsabilidade rs[/caption]

Hoje tenho um pouco de resistência às pessoas que ficam grudadinhas num aparelho celular o tempo todo. Outro dia, comecei a julgar uma mãe que não tirava os olhos do celular enquanto a filha brincava na areia. Ela tirava foto da criança e postava... a bebê fazendo uma festa, muito fofa, e a mãe rindo para uma TELA. Achei um desperdício de expressão de afeto, mas depois eu parei de julgar porque não é da minha conta (quando é, falo) e cada um tem uma percepção diferente da vida - pode ser que aquela pessoa seja super presente, mas estava justo naqueles minutos que eu olhava tirando fotos. Não posso julgar, mas a posso observar o que funciona pra mim ou não, em outras pessoas 😉

Qual o problema de eu ter integrado meu celular ao meu corpo?

Nenhum, se você der preferência às situações e pessoas reais e não às virtuais.

Não tenho nada contra internet e selfies em momentos de família. Sério, eu amo tirar foto, amo rever e amo compartilhar momentos felizes. Minha reflexão de hoje, porém, está além do fato de tirar as fotos. Digo, qualquer coisa que tira nossa atenção do momento presente é um desperdício, mas esse texto é específico para quem anda bitolado no celular.

Estamos presentes no aqui e agora, então a foto é apenas uma forma de recordar? Se sim, perfeito. Ou será que tiramos a foto e logo postamos para que possamos criar, aos olhos dos outros, um passado que nos orgulhamos de ter, mesmo que ele não tenha sido tão bacana, ainda que as fotos tenham ficado lindas?

Quais são nossas verdadeiras intenções por trás de um compartilhamento?

O paradoxo dos relacionamentos modernos

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O que queremos registrar? Como podemos estar no momento presente se queremos estar parado no registro da foto? Um momento bem aproveitado não precisa de fotos pra lembrar, se houver foto, é bônus.

Falo por mim, veja se toca seu coração. Quantas experiências tive sem nenhum registro, mas foram tão intensas que me marcaram pra sempre? Infinitas! A todo instante.

Gosto de tirar fotos, mas costumo postar depois, quando separo o momento pra mexer nas redes. Não há necessidade de eu ficar online o tempo todo. No máximo, eu que trabalho com isso, no momento de trabalhar.

Não estou falando que é o certo pra todos, mas depois que dei uma desbitolada, me sinto mais livre, presente e em paz comigo mesma.

Muitas vezes, as redes sociais acaba sendo apenas uma extensão de nosso ego, usado sem percepção!

Sou a favor de registros, fotos artísticas... Mas sou mais a favor ainda de expressão de afeto - mais que isso, incentivo que se expresse o amor.

O problema da tecnologia, ao meu ver, é aquele cliché: aproxima quem tá longe e afasta quem tá perto.

Uma vez uma amiga me contou que um "amigo" insistiu que ela fosse visitá-lo, na cidade vizinha, alegando estar com  saudades e tal. Ela foi, super feliz. Quando chegou na casa dele, ele só ficou no celular e no computador. Ou seja, enquanto era ela do outro lado do aparelho, havia saudades. Quando ela tava perto, as saudades deviam ser de quem estava online. Esse é o paradoxo dos relacionamentos modernos.

Se eu integro o celular como parte de mim e o outro indivíduo faz o mesmo, seremos dois conectados demais com amigos virtuais e de menos com a pessoa de carne e osso.

Tenho menos saudades das pessoas hoje, por existir tecnologia, mas quando estou presente, quero estar por inteira, olhar nos olhos, contar e ouvir o máximo de história possível.

Pra mim, não há nada mais importante do que as pessoas que estão ao nosso lado. Não acho que devemos desligar o celular sempre que estamos acompanhados, mas ponderar o uso. Precisamos compartilhar tudo, o tempo todo? Quem precisamos informar da nossa felicidade?

Quando o bitolado incomoda

Quem me conhece ou me lê sabe que não gosto de culpar os outros por minhas emoções ruins. Aprendi isso, e me fez sentido.  No entanto, somos livres pra nós afastar de quem fica bitolado e não presta atenção nas pessoas de verdade. Não me impressionaria se um dia soubéssemos, por exemplo, que um homem saiu de casa e só conseguiu avisar a mulher por whatsapp, porque ela estava bitolada demais nas redes sociais (com a chance da mulher achar um absurdo o marido terminar por mensagem). Sério, tô esperando isso acontecer.

A tecnologia deve ser usada a nosso favor e precisamos observar se ela está sendo um problema em nossas relações.

Se houver alguém que está incomodado com sua bitolação, sugiro dialogar. Pode ser carência da pessoa, mas pode ser que ela esteja tendo que lidar com uma passoa ausente.

Comigo não acontece muito comigo, mas quando acontece, tento ignorar. Deve ser chato, porém, ter parceirxs bitoladxs, amigxs bitoladxs, filhxs bitoladxs. Não é legal ser a única pessoa presente no aqui e agora da mesa - às vezes, sim, sou essa única. Lembrando que nem tudo que é comum de acontecer, é normal ou saudável, me sinto desconfortável quando estou com pessoas bitoladas no celular na hora da pizza.

O momento presente

Vejo pouca autenticidade na frente das câmeras, muitas pessoas tentando impressionar quem está do lado de lá das redes. Além disso, perdemos muitas oportunidades de contemplar o aqui e agora, o momento presente que jamais se repetirá.

Quantas vezes vejo as pessoas preocupadas com a "cena" para retratar o pôr-do-sol, enquanto perdem a chance de apreciar o próprio protagonista se despedindo junto com a obra de arte única que o céu fica toda tarde?

Certa vez estava intercalando meditar e contemplar o pôr-do-sol, quando ouvi um cara falando que "quem medita perde a noção da realidade" e que eles podiam falar alto porque "quem medita não escuta". Nisso sorri, enviei amor incondicional a eles mentalmente, torcendo para que apreciassem as simples belezas da criação. Em poucos segundos, uma mulher da roda falou do pôr-do-sol, admirando-o e não falaram mais de mim.

Estar no momento presente é extremamente prazeroso e nos proporciona uma sensação de paz. Qualquer distração que nos tire do presente pode nos causar ansiedade, euforia, tristezas e outras emoções fortes. Para estar em paz, eu procuro me manter no centro, tento equilibrar as sensações boas e ruins. Claro que é difícil, mas a proposta é chegar o mais próximo disso.

Quero desbitolar e viver o presente

Minha sugestão é sairmos da superfície, quando a sós e em momentos de nos relacionar entre nós, e focarmos em nosso próprio interior, em nos conhecer, saber quais são nossas próprias sombras e como podemos lidar com elas.

O que eu faço também é: sempre que vou tirar uma foto, procuro parar para apreciar, verdadeiramente, aquele momento. Mesmo que mentalmente. Às vezes, o momento é tão intenso que a foto pode até ser deixada de lado. E, caso ainda valha a pena tirar a foto ou compartilhar um status, ela terá muito mais valor!

Alegria (verdadeira) compartilhada é alegria redobrada.

Agradeço do fundo do coração o objeto do meu registro. Encontro muitos motivos, em uma cena, pra apreciar a vida. Encontro, em um like, muitos motivos para perdoar a tudo e a todos. Procuro estar mais tempo sozinha e ser a melhor versão que posso ser. Sem aplicativos, eletrônicos e fotos. Fazendo uma autoanálise do que posso melhorar em mim, o mundo ao meu redor muda.

Precisamos impressionar a nós mesmos para que os outros se impressionam,  mas só amaremos a nós mesmos por completo quando trabalharmos nossas próprias sombras.

Presença online é legítima, mas vamos dar preferência à vida offline?

[caption id=“attachment_3860” align=“aligncenter” width=“400”]Alegria apenas é real quando compartilhada, mas de preferência pra quem tá presente, offline com você. Alegria apenas é real quando compartilhada, mas de preferência pra quem tá presente, offline com você.[/caption]

Só queria compartilhar isso. Se gostou, se não te tocou ou não concorda, pode deixar sua opinião nos comentários.

Gratidão