Estávamos sentados esperando, em fileiras, era eu, ele do meu lado, na frente dele uma cadeira vazia e na minha um outro qualquer. Rodava por ali uma mosca assanhada, ela gostou da mesa vazia, acho que ela queria fazer a prova e achava que aquele era seu lugar
Diogo, essa era o nome dele! Não, não o da mosca, do menino da mesa do meu lado. Percebi Diogo inquieto desde quando ocupou seu lugar a carteira, ele parecia ansioso, afinal, íamos fazer uma prova muito importante em alguns minutos, ele se esticava, colocava os pés na cadeira da frente, batucava alguma coisa com a mão, e eu, mais ansiosa ainda, sussurrando algum emocore barato não aguentava aquela espera.
Até então, movimentos normais pré vestibular, ansiosidade, inquietação, silêncio e suor frio… Então ela apareceu! Sim, a Madalena, a mosca!
Enquanto Diogo estava sentado com seus pés apoiados na carteira da frente, a mosquinha indefesa pousou na beiradinha, e ele não hesitou: deu uma batidinha no encosto da cadeira. Madalena, ou Madá, para os íntimos (é claro que eu que dei esse nome para ela!), voou assustada, passou pela orelha do garoto e voltou pousar na mesa, e de repente ouvi um “toc” na cadeira, Diogo de novo, era somente um toque na cadeira, mas ela ficou meio tonta, para mim, aquele pequeno impacto é muita coisa para um inseto tão pequeno. Ao voar, deu uma volta no mesmo lugar e voou para a direção do garoto na minha frente que a assustou com aquelas mãos gordas. Coitadinha! Sim, eu sei, coitada! Tá, eu sei também que é só uma mosca, e que moscas irritam, mas ela só queria estacionar suas asinhas em uma mesa vazia, mas não a deixavam em paz, e quando voava era alvo de mãos e papéis abanando.
Essa causa era minha, sim, minha! E eu faria o maior drama por ela se não tivesse começado a ser muito engraçado. De repente, Diogo começou a ter alguma coisa pessoal com aquela pobre mosca, começou uma perfeita guerra entre Diogo e Madalena, dentro da sala de aula, minutos antes de prestarmos vestibular. Claro que eu fiquei do lado dela, mesmo esse tal de Diogo sendo tão gatinho, mas essa é uma outra história.
A guerra começou quando o gordinho espantou a coitada e ela deu uma volta e meia pela cabeça do Diogo, depois de dar essa volta, ela estacionou na mesa de novo, totalmente o encarando de frente, no meu pensamento eu a vi se transformando em uma mosca mutante e engolindo aquele rostinho bonito, mas ela só voou mais um pouco e pousou de novo, depois o garoto disfarçadamente empurrou a cadeira com os pés para o lado, a movimentando milímetros de lugar, ela passou por mim, éramos cúmplices, sorri, passou por ele, desviou da mão dele que abanava, pousou, zumbia, o menino começou a ficar irritado, mas então uma menina toda desastrada chegou fazendo barulho e sem ar, como se tivesse corrido para chegar a tempo, sentou de sopetão na mesa e nunca mais vi a Madalena, a mosca, a menina tinha meu nome e acabou com minha alegria.