O material a seguir pode te tirar da zona de conforto, então se você é feminista ou é contra esse movimento, talvez você fique um pouco desconfortável, mas mudar de paradigma é assim mesmo.

Mesmo que o movimento de resistência tenha, sim, seu lugar e propósito, muitas pessoas vêem as feministas que gritam um pouco mais alto como radicais e extremistas, taxando-as até de femistas - contrário de machismo. A proposta é olhar o feminsimo com menos aspecto de luta, e mais um trabalho de conscientização; que paremos de querer ir contra, brigar; que olhemos com mais amor para os outros, deixando de apontar dedo, e que façamos uma revisão de nossos conceitos, homens e mulheres, toda sociedade, individualmente - com trabalhos de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.

Eu tenho ficado bem tocada com falta de tolerância, paciência e respeito nos debates sobre feminismo. Estamos todos agindo de um lugar de agressividade, competição e poder em nossas conversas.

De um lado, queremos que o outro se convença de que o movimento é importante, esquecendo que cada um aprende em seu tempo, nas suas leis, nas suas condições, de acordo com sua bagagem: cultura, crenças, medos, experiências...

Por outro lado, estamos atrapalhando um movimento que já é meio sem controle - pois possui várias vertentes. Atrapalhamos indo contra porque, em algum momento, disseram algo que não concordamos, então nos tornamos contra o movimento todo - assumimos que ele não deve existir, que por si só o movimento está errado, sem lembrar que ele já conquistou muitas coisas e pode conquistar muito mais.

Falta muita paciência de todos os lados para saber que todos estão apenas aprendendo, e há uma maneira mais amorosa - sempre - de se comunicar.

Estamos dando murro em ponta de faca: insistimos que as coisas mudem no nosso ritmo ou vamos contra um movimento que já se mostrou eficiente em muitos momentos e está aí pra ficar, queiramos ou não.

É claro que, em algum momento, a revolução foi necessária. A ruptura foi feita, as mulheres já são vozes ativa na sociedade. Sim, precisamos ocupar mais espaços e nos firmar, garantir outros direitos, falar sem tabu sobre muitas coisas ainda, mas uma primeira ruptura já foi feita. Ela foi feita, e ainda é, pelo feminismo que vou chamar de "resistência" - que bate de frente com atitudes opressoras, propõe novos comportamentos, políticas públicas e está dividida em várias vertentes. É o feminismo que grita. É uma luta. Tem seu espaço na sociedade.

Porém, enquanto não estamos naquele contexto, não vale a pena permanecer no paradigma da guerra, da briga.

É essa a minha proposta.

Nossa indignação é tanta que queremos que séculos de opressãoa acabe hoje, agora, que todos virem a chavinha dentro de suas cabeças e que o machismo simplesmente suma. Às vezes, temos tanta certeza de que é o certo a fazer, que queremos desconstruir a todo custo, inclusive com palavras duras, troca de ofensas.

Essa chave não vai mudar do nada, nem com imposição, nem sem. As coisas simplesmente vão no seu ritmo. Porém, precisamos ser mais conscientes sobre nossa agressividade, pois quanto mais violência, mais a necessidade de proteção. E, frequentemente, a proteção acaba sendo um contra-ataque.

Vim propor um novo paradigma, uma nova realidade. Vim propor uma vertente do feminismo, no paradigma do amor.

Começando com a seguinte afirmação: tá todo mundo errado! Tá todo mundo precisando ter mais compaixão. Todo mundo fala tanto de amor, enche a boca para falar que as pessoas deveriam ser mais bem intencionadas, mais sinceras, mais respeitosas, mas erram numa muito fácil: não praticam a compaixão.

Compaixão é, pra mim, a noção de que a outra pessoa merece ser feliz e ser amada independente de suas escolhas. Não significa que concordamos com ela, apenas significa que ela merece ser amada. Compaixão também é sentir a dor do outro sendo sua, mas não descer sua frequência, sua energia.

Todo mundo deveria colocar a mão na consciência e se perguntar por que não consego ser menos agressivo na fala. Por que sempre tem de enfrentar as situações ao invés de observar, sem julgamento. Por que não consegue ter mais compaixão com a fala do outro?

Refletir, por exemplo, por que, homem, você não consegue se colocar no lugar da mulher? Não digo se colocar na situação da mulher,  mas verdadeiramente no lugar dela - com todos os traumas, crenças e cultura que ela tem. Não adianta dizer "eu não me incomodaria, eu iria amar ser assediada na rua", por que isso não é se colocar no lugar da mulher que se incomoda, é se colocar no lugar da mulher que não se incomoda, que gosta.

Colocar-se no lugar do outro se chama empatia, e se praticada com  frequência, pode se tornar compaixão. Se a mulher se incomoda ao receber uma cantada mal intencionada na rua (assédio), ela vai ter uma reação diferente de uma mulher que não se incomoda. Ela não precisa gostar. Se você se preocupa com nós, mulheres, você pode ouvir o que temos a dizer. Se você tiver compaixão, ou seja, sentir nossa dor de verdade, pode acolher, cuidar, perguntar para nós o que pode ser feito para que esse incômodo seja resolvido.

Por que, você que é contra o feminismo, não pode entender que o movimento feminista já fez coisas boas para as mulheres? Reflita: se a gente fizer no amor, podemos expandir o amor.  Nem todo femismo é agressivo, falta focar em outro ponto de vista. Se você é a favor de direitos iguais entre os gêneros, se você compreende a dor da mulher, se você entende que as mulheres foram oprimidas durante muito tempo e ainda são muito - se você entende isso e quer mudar esse cenário desfavorável,  você é a favor do movimento feminista - se é contra, talvez esteja vendo apenas um lado. Que tal olhar para outros aspectos? Só temos alguns direitos hoje porque o movimento existe - reflita e tenha compaixão de quem está descontrolada, com certeza uma pessoa que você chama de "femista" ou "feminazi" age como age porque até agora ninguém deu razões para ela acreditar que funcionasse diferente.

Mas não quero responsabilizar sempre o homem ou a mulher que não é feminista. Por que nós, mulheres, não conseguimos entender que estamos pedindo uma postura nova da humanidade e que isso leva tempo? Por que, enquanto fazemos o movimento para desconstruir o machismo e toda a essa opressão, também não desconstruímos a nós mesmas, nossos medos e resistências? Por que não vamos atrás de vivermos melhor com esses homens que estão se esforçando também? Por que não enxergamos, muitas vezes, o esforço desses homens? Por que não temos mais paciência? Por exemplo, vejo um grande número de "do contra" porque muitas vezes falamos coisas que pode soar, para o homem ferido, uma ameaça, uma pressão.  Além disso, se falamos com agressividade algo que vai contra o sistema já é visto como algo ruim e é rejeitado por ser subversivo. Se a gente conseguir ter mais paciência e compaixão, se a gente encontrar uma forma de entender que a cultura de quem reproduz atitudes machistas é tão enraizada que, de fato, essas pessoas acham que estão certas, viveríamos com  mais amorosidade. Para desconstruir, é importante que o indivíduo seja impactado de uma forma que ele possa somar, e não que ele seja atacado.

Se você é machista assumido e veio tentar perpetuar a opressão: esse material não é pra você. Na verdade, o feminismo de resistência é pra você. Ah, e eu amo e honro a resistência ♡

Vou te dar um exemplo prático.

Outro dia li e compartilhei um texto que deu pano pra manga. A menina dizia que "todo homem é um estuprador em potencial". De um lado, ela foi taxada de femista porque está generalizando um grupo de pessoas específico: todo homem é um potencial estuprador. Porém, como mulher e feminista, eu sei que essa frase não é sobre o homem. É sobre o medo das mulheres. Mas na fala, não era evidenciado que era sobre o medo das mulheres, e sim sobre o medo que os homens causam. Dessa forma, os homens não se identificaram. Não conseguiram ter empatia porque logo ele se sentiu ofendido, quando se sente ofendido não consegue ter empatia.

Na verdade, essa fala não é sobre os homens, sobre as atitudes dos homens. Essa fala é exclusivamente sobre o medo que a mulher tem de andar na rua sozinha. Essa frase mostra que, para uma mulher com medo, a vida deve ser um inferno. Afinal, ela tem um mostro dentro de si, criada por experiências, testemunha, crenças, traumas e outros acontecimentos que ela leva na bagagem.

Muitas de nós, mulheres, crescemos com medo de ser mulher. Muitas, como eu, sentem uma dor e peso enorme por ser mulher. Muitas, como eu, por algum tempo, não conseguem passar para o paradigma do amor, pois o medo é maior e paralisa. Muitas, por conta disso, gritam de uma posição de medo, de defesa, de instinto. A pessoa com medo, pode ser bem reativa. Se o homem aperta o gatilho dela, ela pode reagir. Isso não significa que ela é femista, ela apenas está vivendo sob uma pressão muito grande por conta de seus medos.

E isso gera uma divisão na ideologia, e essa divisão gera ataques constantes, chumbo trocado.

O homem não precisaria se sentir ofendido com a mulher que diz que todo homem é, pra ela, um potencial estuprador, porque deveria entender que não é sobre ele, e sim sobre o medo dela. Nesse caso, ele perguntaria, como eu, ao invés de retrucar: o que pode ser feito para sair desse estado constante de medo???

O que o homem poderia fazer, se quiser, nesses casos, é se questionar: "eu posso ser um mostro pra ela? O que eu posso fazer para não ser um monstro pra ela?" E perguntar a uma mulher: como eu posso não ser uma ameaça pra você? Se me perguntassem, eu diria que apenas não assobiar, não dirigir à palavra, não dizer sobre o meu corpo, não me encarar como um pedaço de carne, não sussurrar algo para mim já me ajuda muito a não ter medo.

Outra coisa que eu acho ridículo ter que falar, mas é sempre uma questão levantada: tenhamos bom senso, o flerte não vai acabar por causa disso. Elogiar, abordar de forma delicada, ser uma pessoa amorosa e trabalhar a conquista em ambientes adequados para isso, com consentimento, sempre vai e deve existir. Não estamos falando de flerte, e sim de assédio.

Se você é um cara que mexe com mulher na rua, saiba que você está colaborando para um mundo no paradigma do medo,  pois está perpetuando esse terror (desculpa se parece exagero, para mim não é).

Enquanto isso, nós, mulheres, podemos olhar nossos medos de perto, encara-los para resolver.

Meu exemplo de 2014: trabalho de compaixão. Ele ainda não sabe que as mulheres são mais que um pedaço de carne. Primeiro pensava "que idiota, machista", depois me deu pena: "coitado dele, ainda não entendeu", e hoje eu envio luz: "amor e luz para esse ser que precisa da minha energia. Eu sou linda e esse ser está tentando sigar minha energia, então eu vou doar voluntariamente enviando amor e luz para ele, pois assim consigo me manter vibrando alto e ele também se beneficia" e, em algum momento, ele vai aprender - não é eu xingar que ele vai aprender algo.

Claro que, para nós, mulheres, é importante que tenhamos o discernimento para o que é um medo de crenças e traumas - e o que é medo verdadeiro, medo que coloca a vida em risco. Perigo eminente. Mas isso deve ser desenvolvido por qualquer pessoa, pois ameaças temos o tempo todo.

A importância do autoconhecimento da mulher é explícita aqui, pois só indo fundo na situação para resolver a questão. No meu caso, consegui entender de onde vinha a raiva das cantadas, o que me fez desenvolver a compaixão. Outro exemplo de trabalho meu nesse contexto foi o medo se ser linda: quando notei que tinha esse medo, comecei a repetir para mim mesma que minha beleza é um presente para esse mundo e que apenas seres de luz podem me ver, trabalhei na minha proteção energética. Trabalhar os medos e desenvolver compaixão está acessível a todos. Assim, a mulher passa a vibrar menos medo, mais amor, atraindo menos situações perigosas para si.

Nesse ponto, a mulher estaria se trabalhando para não ter tanto medo, e o homem estaria entendendo a mulher, sua situação, e - se quisesse colaborar para a cura do medo da mulher - ele a acolheria, falaria com ela: como posso deixar de demonstrar ser uma ameaça?

O que fazer com quem ainda quer permanecer no paradigma do medo? Desenvolver compaixão por eles. Sim, eles estão aprendendo. Sim, eles também tem seus medos, traumas. Sim, talvez eles precisem chamar atenção das pessoas sendo um "babaca". Ele com certeza tem suas razões. Podemos dizer que estamos construindo uma sociedade mais amorosa, com mais respeito e que ele está na contra mão disso. Porém, eles só vão desconstruir se eles quiserem, quando quiserem. Logo, com otimismo, iremos viver em uma sociedade no paradigma do amor, em que comportamentos que perpetuam o medo, o poder de uns sobre os outros, vai ser abandonado. Se eu vou ver esse mundo ou não, pouco me importa, o que me importa é ser a mudança que eu quero ver no mundo.

Disso tudo, quero que vocês levem algumas reflexões, sendo elas:

Precisamos nos unir para que as mulheres que estão vivendo sob pressão, com medo de tudo sejam acolhidas, orientadas com carinho sobre trabalhar seu próprio medo e refletir sobre seu papel no movimento, seu papel na desconstrução desse medo e fazer de tudo para permanecer no paradigma do amor.

Da mesma forma, precisamos nos unir para mostrar aos homens que não somos inimigas, queremos nos aproximar, mas precisamos de uma pré-disposição também de vocês, homens. Procurem ser mais compassivos com a dor da mulher, procure parar de criticar o grito de medo dela, entenda que ela está fazendo como pode, com a consciência que tem. E procure formas de colaborar com o movimento por direitos iguais.

Aos machistas, apenas melhorem.

Na dúvida, sempre pergunte-se: de que paradigma estou falando: do medo, ou do amor?