Estive refletindo sobre algumas propostas que eu me fiz nos últimos anos e que têm me ajudado na minha caminhada. Resolvi compartilhar quatro delas, para o caso fazer sentido para outras pessoas também:

1. Praticar o não julgamento

O julgamento pode até ser uma ferramenta útil para fazermos escolhas mais adequadas em nossa vida cotidiana. Escolhas essas que vão mais de acordo com nosso propósito e para que utilizemos todo nosso potencial.

Minha impressão é, no entanto, que ficamos viciados em julgar e nossa mente coloca rótulos o tempo todo, em tudo e em todos. No lugar do ciclo sem fim de julgamento, a proposta é ter discernimento para que as nossas próprias escolhas sejam feitas com sabedoria.

Julgamento excessivo colabora com nossa infelicidade porque resistimos ao que simplesmente é. A medida em que pensamos que se não está dentro dos nossos planos está errado, traçamos uma estratégia para mudar e nunca nos contentamos com o que temos no presente momento. Parar de julgar o tempo todo nos mostra que as coisas acontecem exatamente como devem acontecer e que as pessoas são exatamente como elas devem ser. Parando de julgar conseguimos tirar aprendizado de todas as situações.

Ter discernimento auxilia no momento em que precisamos fazer escolhas porque passamos a ser mais conscientes de nossas opções e quais as consequências de cada uma delas. Além de parar de julgar outras pessoas e situações, precisamos, definitivamente, parar de julgar nós mesmos porque esse julgamento sempre vem com comparações injustas e com a sensação de que não somos suficientes.

Desde a roupa da colega que você acha de horrível e de mau gosto, até situações em que não vemos nenhum lado bom, a proposta é deixar o julgamento e ter discernimento com sabedoria.

2. Tenha compaixão

Em relação à prática do não julgamento, admito que foi difícil entender como não julgar criminosos hediondos, injustiças, homens nojentos me cantando na rua e motoristas me desrespeitando enquanto ciclista. Comecei a perceber que a melhor forma de lidar com situações que estão fora do nosso controle é ter compaixão por todas as pessoas, incluindo as que (em nosso julgamento) não são tão legais.

Ter compaixão é sentir-se conectado com o outro, sabendo que formamos uma teia, e que de certa forma somos essas pessoas também. Além disso, somos todos seres humanos passíveis de erro. Há também diversos níveis de consciência e nem todos pensam da mesma forma e, apesar do bem e o amor serem quase unanimidades quando diz respeito à ordem, nem todos interpretam isso da mesma maneira. É um pouco difícil, mas desenvolver compaixão por todos os seres é possível ao entender o que é amor incondicional e que todos somos um.

Isso não significa que queremos estar com pessoas "más", muito menos que concordamos com o que essas pessoas fazem. Apenas sabemos que há uma razão para que as pessoas façam o que fazem e nossa resposta deve ser sempre amor incondicional, nunca na mesma moeda.

Ter compaixão é aceitar que o outro também erra, mesmo errando pesadamente, cruelmente e de forma ignorante. A proposta é ajudar, no que for possível, para levar amor à todos, principalmente a quem compreende de forma distorcida o que é isso. Lembrando sempre que cada um possui liberdade de fazer suas próprias escolhas e que as consequências de más escolhas são sabidas por (quase) todos.

Aos homens que me cantam na rua e aos motoristas que me desrespeitam como ciclista, por exemplo, não fico mais irritada, envio meu amor incondicional, tenho compaixão e tento não me abalar com isso, transbordando meu coração de amor.

Leia um texto sobre compaixão do Dalai Lama

3. Desapegue

Essa proposta é relativamente simples, mas poderosa. Lembro da primeira vez que meu pai me deu um iPod. Eu ainda tinha um computador de modelo desatualizado e não havia USB. Não podia, portanto, conectar meu novo brinquedo, inserir músicas e utilizá-lo. Era um presente que eu não podia usar. Pedi um computador novo pro meu pai e ele não ia me dar, então me disse: "finge que não existe esse iPod até você ter um computador com USB". Foi uma lição muito importante, porque assim eu entendi que desapego era algo mental. Não é porque eu tenho algo que ele se torna essencial ou que não possa mais viver sem.

Aos poucos, enquanto eu crescia, mais exercício de desapego eu fazia e eu hoje tiro relativamente de letra isso, mas sei que é a dificuldade de muita gente.

Adoramos nos apegar a pessoas, objetos, planos e até mesmo sentimentos. Eu escrevi sobre desapego no blog do Alooga e a proposta é simples: já que tudo na vida é impermanente, tudo está em constante mudança, pratique o desapego.

Apegar-se é atalho para o sofrimento. Podemos começar a exercitar o desapego com pequenas coisas (tipo coisas que quebramos ou perdemos) e também desapegar das coisas, circunstâncias ou pessoas que não nos servem mais, mas ainda nos mantemos apegamos.

Até mesmo os sentimentos mudam, mas nos mantemos apegados. Aquela raiva que sentimos de alguém, ou um sofrimento. Todas as emoções devem ser bem vindas, sentidas e expressadas, mas até isso muda, então desapegar nos faz mais felizes.

4. Siga seu coração

Percebo que a maior parte do sofrimento é gerado por ouvirmos os outros demais e nossa voz interior de menos. Padrões de beleza, status social, competição e bens materiais conquistados muitas vezes não estão de acordo com nossa missão de vida e acabam sendo vazios, apenas superficial. Todas essas coisas só colaboram com nossa felicidade se estiverem alinhados com nosso eu superior, nosso verdadeiro propósito. Como sabemos qual é? Autoconhecimento. Conheça quem você é, suas verdadeiras habilidades, dons. Saiba o que te faz realmente feliz. Aproxime-se de quem completa sua alma, de quem some de verdade. Seguir o coração é estar feliz com as escolhas feitas, é saber que as consequências valem a pena. Quando mergulhamos fundo em quem realmente somos e o superficial passa a ser menos importante, nós aprendemos a seguir o coração.

Essas quatro propostas são alguns conceitos que procuro praticar e me aliviam quando estou passando por processos. Espero que também ajudem você, e se tiver alguma sugestão, deixa aqui nos comentários.

Gratidão (que também é uma proposta incrível) 🙂